Tem gente que não quer política de cotas
Documento apresentado por intelectuais se opõe radicalmente à política de cotas a afro-descendentes e condena o Estatuto da Igualdade Racial.
Nova polêmica na questão racial
Manifesto de intelectuais critica política de cotas; Sindicato está entre as entidades que defendem o mecanismo para buscar igualdade
Uma nova polêmica sobre os caminhos para se chegar à igualdade racial foi lançada na última sexta-feira. Um grupo de intelectuais, artistas e ativistas entregou ao Congresso Nacional manifesto contra os projetos de lei que podem garantir cotas raciais nas universidades para negros e indígenas. O documento é assinado por 114 pessoas, a maioria professores universitários, mas conta também com a participação de famosos como o compositor Caetano Veloso, o poeta Ferreira Gullar, o sociólogo Luiz Werneck Vianna, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos e o cineasta Zelito Vianna.
O texto se coloca contra a aprovação dos projetos de lei 73/99, que estabelece as cotas raciais, e 3.198/2000, que cria o Estatuto da Igualdade Racial. “Se forem aprovados, a nação brasileira passará a definir os direitos das pessoas com base na tonalidade de sua pele, pela ‘raça’. A história já condenou essas tentativas”, diz o documento, defendendo que os projetos de lei em questão poderão estimular o racismo na sociedade. Para a agência de notícias Afropress, especializada em questões ligadas ao movimento negro, os 114 intelectuais não estão com a razão e merecem críticas. “Os intelectuais que assinam o manifesto, contudo, não apontam qualquer alternativa de como o Brasil pode enfrentar a escandalosa desigualdade racial que aparece com nitidez nos indicadores dos principais institutos de pesquisa”, afirma texto publicado em seu site.
A agência também anuncia que “lideranças e ativistas negros” começam a articular uma resposta. O senador Paulo Paim, criador do projeto que cria o Estatuto da Igualdade Racial, já respondeu: “É um manifesto da elite, pois dar espaço aos negros não interessa”. Para a representante da Comissão de Combate ao Racismo do Sindicato, Ana Nice, as cotas são indispensáveis. “Precisamos desta e muitas outras políticas públicas que propiciem a igualdade racial, pois o acesso à educação abre as portas para várias outras formas de inserção na sociedade”, destaca.