Toyota do Brasil quer desenvolver carros locais

Nova estratégia da matriz de ampliar a participação dos países emergentes nos negócios do grupo dará maior autonomia à filial

O anúncio feito há duas semana s pelo presidente mundial da Toyota, Akio Toyoda, de ampliar a participação dos países emergentes nos negócios do grupo abre oportunidade inédita para a filial brasileira de desenvolver carros para o mercado local e ter maior autonomia na escolha de produtos. Hoje, a empresa apenas faz adaptações nos modelos criados pela matriz japonesa.

O presidente da Toyota Mercosul, Shunichi Nakanishi, diz que os mercados emergentes, hoje responsáveis por 40% das vendas da marca, vão receber mais atenção da direção mundial e o Brasil é “candidato pronto” para receber mais modelos e mais projetos. “Vamos ter estratégias regionais de acordo com essa nova visão global”, diz o executivo.

A fábrica em construção em Sorocaba (SP) é uma das apostas na nova estratégia. Inicialmente, a unidade vai fabricar um compacto já em produção na Índia, mas que receberá alterações para o mercado brasileiro. “Nossos engenheiros estão trabalhando em conjunto com engenheiros do Japão”, informa Nakanishi.

A meta da Toyota, maior fabricante mundial de veículos, é uma participação nas vendas totais de 50% para os mercados emergentes e 50% para os desenvolvidos até 2015. Nakanishi vai negociar com a matriz a proporção de autonomia que a subsidiária terá. “Vamos ter mais conexão entre nossos escritórios de desenvolvimento e os do Japão”, diz.

Corolla. Nakanishi assumiu o comando da Toyota em janeiro e ontem participou, em Atibaia (SP), do lançamento do Corolla 2012, modelo que foi reestilizado. Na parte externa, mudaram, entre outros itens, o para-choque, a grade, os faróis dianteiros e as lanternas traseiras. “O visual ficou mais jovem e renovado”, diz.

A campanha publicitária será feita pelos atores Wagner Moura e Selton Mello. Foram investidos US$ 33 milhões nas mudanças. Internamente, o Corolla ganhou câmbio manual de seis marchas nas versões mais baratas, câmara de orientação de manobras no espelho retrovisor e sistema Bluetooth (onde se pode conectar, por exemplo, iPod e MP3) nas versões mais caras. O motor 1.8 foi totalmente renovado, ganhando potência e melhor desempenho no consumo.

Em relação ao anterior, a versão top de linha, a Altis, teve o preço reduzido de R$ 89,2 mil para R$ 87,5 mil. As demais ficaram um pouco mais caras, entre R$ 470 para o modelo XEi 2.0 (R$ 77,7 mil) e R$ 1.360 para o XLi (R$ 68,5 mil).

O vice-presidente da Toyota, Luiz Carlos Andrade Jr, espera vendas de 55 mil unidades do Corolla este ano, igual volume de 2010, que coloca o modelo como líder no segmento. “Manter o mesmo volume num mercado mais competitivo já é uma tarefa difícil”, diz. Em 2010, o segmento de sedãs médios teve queda de 8,2% nas vendas em relação a 2009, para 176 mil unidades.

Para Andrade, a queda é resultado da migração de clientes para sedãs grandes e utilitários-esportivos. Ainda assim, a maioria das marcas que atuam no segmento tem novidades para este ano. A Honda vai lançar o novo Civic no segundo semestre, a Ge neral Motors terá o Cruze, a Kia o novo Cerato e a Hyundai o Elantra, entre outros.

Terremoto. Shunishi Nakanishi diz que o terremoto que atingiu o Japão e paralisou as atividades das fábricas do grupo não devem afetar a produção no Brasil. O Corolla, único modelo produzido localmente, recebe partes de motores e transmissões da matriz. “Temos estoques de peças para três meses de produção”, diz.

S egundo ele, as unidades do grupo não foram afetadas pelo terremoto e pelo tsunami, mas alguns dos fornecedores secundários da companhia, sim. A empresa ainda avalia o impacto da tragédia e pode remanejar a produção de alguns itens para áreas não afetadas. Enquanto faz essa avaliação, a Toyota suspendeu toda a produção local desde o dia 14 até o dia 26.

Toyota ainda sofre com a concentração da matriz

“Com a força da mídia, eu espero que vocês convençam a matriz a permitir a volta das vendas do Fielder no Brasil”. O apelo, praticamente inútil, veio do presidente da Toyota do Mercosul, Shunichi Nakanishi, ao ser questionado, ontem, sobre o fim da produção de um modelo bem aceito pelo mercado brasileiro, mas que não se enquadrava no programa de lançamentos da montadora.

O desabafo serve para expor que a excessiva concentração do desenvolvimento dos veículos na matriz continua a retardar os planos de expansão da montadora japonesa nos países emergentes.

O modelo Fielder, uma perua criada em 2004 como uma derivação do Corolla, deixou de ser produzido há dois anos, quando na renovação mundial da linha, não havia espaço para um veículo feito para brasileiros.

A indústria automobilística podia se dar ao luxo de desenvolver modelos mundiais únicos no passado. Mas o cenário mudou desde que as regiões emergentes começaram a despontar como as únicas que podem absorver a produção mundial d e veículos.

Os fabricantes já se deram conta disso. Alguns que produzem no Brasil há mais tempo e conseguiram nesse mercado volumes que fazem diferença nas vendas globais já produzem modelos locais há mais tempo. É o caso clássico do Gol, da Volkswagen.

Engessada, a filial brasileira tem que se contentar com a produção de um único modelo, o próprio Corolla, na fábrica de Indaiatuba (SP). O que agora consola Nakanishi é o fato de a montadora ter notado que as vendas em mercados emergentes já chegam aos 40% e de o presidente mundial, Akio Toyoda, ter declarado recentemente o objetivo de conseguir elevar a participação das nações emergentes em pelo menos 50% até 2015.

O executivo que assumiu a direção da operação Me rcosul no início do ano sabe que de nada adiantará a construção de mais fábricas, como a que está sendo erguida em Sorocaba (SP), se a equipe brasileira não começar a interferir na elaboração dos próximos projetos de automóveis.

Nakanishi apareceu ontem para o lançamento de uma nova versão do Corolla nitidamente triste não apenas pelo efeito geral do terremoto e tsunami, no dia 11, no Japão, mas por ter laços de família e amigos em duas cidades localizadas na região que mais sofreu com a tragédia – Iwate e Sendai.

O economista Nakanishi nasceu em Iwate, em Hokaido. Morou durante quatro anos em Sendai, município praticamente devastado pela catástrofe, para cursar a universidade local, a Tohoku Daigaku, uma das mais antigas e conceituadas do país. Segundo o executivo, amigos e parentes só sofreram dano s materiais.

O trabalho na filial brasileira e argentina da Toyota, espera Nakanishi, deverá prosseguir normalmente nos próximos dias, sem prejuízos, apesar da dependência de peças e veículos importados. A maior parte dos componentes de motor e transmissão do Corolla lançado ontem vem do Japão. A direção local conta com a normalização da atividade nas fábricas da matriz, prevista para sábado. Segundo o vice-presidente da Toyota Mercosul, Luiz Carlos Andrade Jr., o estoque de veículos trazidos do Japão é de três meses.

Os executivos não escondem no entanto, a preocupação com o abastecimento das linhas de produção da Toyota no Japão porque nas regiões mais atingidas pela catástrofe há fábricas de subfornecedores. Essas empresas produzem componentes que os maiores fornecedores da companhia usam para faz er as peças que seguem para a linha de montagem dos veículos.
Nakanishi conta, no entanto, com um costume da indústria japonesa de trabalhar com dois fornecedores para cada peça. Dessa maneira, consegue, em situações de emergência, concentrar o suprimento no fornecedor que com condições de trabalhar.

A empresa garante, ainda, que a construção da fábrica em Sorocaba não será interrompida. Segundo Andrade, a maior parte do investimento, de US$ 600 milhões, está sendo feita com recursos obtidos no Brasil. A parte menor do dinheiro virá da matriz. A obra está na fase de construção dos prédios, sendo que a unidade de pintura já está pronta. A inauguração está prevista para o segundo semestre de 2012.

Na nova fábrica s erá produzido um novo automóvel pequeno, concebido com base na plataforma de modelo semelhante já fabricado na Índia. Assim que começar a funcionar, a linha de Sorocaba adicionará 70 mil veículos por ano ao total das vendas da Toyota no país, em torno de 100 mil hoje.

Nove grandes fornecedores se instalarão em terreno ao lado da montadora e garantirão cerca de 2,5 mil empregos, praticamente a mesma quantidade de vagas que serão abertas na Toyota. O treinamento de pessoal já começou.

Com Estadão e Valor Econômico, via CNM/CUT