Trabalhadores do pré-sal são capacitados no ABCD
Mão-de-obra do setor metalmecânico deve suprir demanda das áreas de petróleo e gás; cursos ganham destaque em instituições de ensino
Um dos maiores gargalos para a exploração do petróleo brasileiro na camada pré-sal, a falta de mão-de-obra técnica e especializada, pode ser minimizada no ABCD. Isso porque os trabalhadores do setor metalmecânico têm condições de atender à demanda das empresas da Região fornecedoras da Petrobras.
Com a tradição do setor automotivo no ABCD, os profissionais estão passando por um processo de capacitação. Os cursos voltados para a área nos níveis superior e técnico ganharam mais destaque nas instituições de ensino do ABCD.
De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Diadema, Luis Paulo Bresciani, as oportunidades com o pré-sal absorverão mão-de-obra mais qualificada. “Como o setor metalmecânico na Região já segue essa tendência de qualificação, a transferência será mais rápida”, afirma. Já as atividades relacionadas à indústria química exigirão uma formação especializada. Nessa área, a Região conta com cursos específicos, alguns relacionados diretamente ao setor de petróleo e gás.
Entre as universidades da Região, a UFABC (Universidade Federal do ABC) investe na ampliação do laboratório de nanotecnologia do petróleo. O atual espaço de pesquisa, no campus da avenida Atlântica, em Santo André, será transferido para a sede principal da universidade, na avenida do Estado, em um ano e meio. As instalações exigirão investimentos de R$ 3 milhões da Finep (Financiadora de Estudos e Pesquisas). O projeto está em fase de estudos e deve ser aprovado até o final deste ano.
O professor do Centro de Engenharia da UFABC, Sergio Brochsztain, explica que o laboratório de pesquisa já atende a disciplina de petróleo, mas a expansão é necessária, tendo em vista a criação de novos cursos.
De acordo com o professor, foi criado na universidade um grupo de pesquisadores de nanotecnologia aplicada à área do petróleo. “Estamos explorando um filão que nem todas as indústrias conhecem”, adianta. Sergio explica que a tecnologia nesta escala permite melhorar a recuperação de petróleo durante a exploração.
A universidade ainda pretende abrir curso específico de engenharia do petróleo, mas, de acordo com Sergio, há dificuldade em encontrar docentes. Duas vagas abertas ainda não foram preenchidas. “O problema é que o salário inicial do professor é de R$ 8 mil, enquanto a Petrobras, por exemplo, paga para um especialista entre R$ 20 a 30 mil”, explica.
MBA e técnico
O campus Eldorado da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em Diadema, também conta com um curso de Engenharia Química com disciplinas voltadas para o petróleo, desde o refino, craqueamento à retirada do enxofre. A primeira turma, com 40 alunos, se forma no final de 2011, a maioria já estagiando em empresas da Região.
A professora do setor de Engenharia Química, Romilda Fernandez Felisbino, acredita que a demanda para o curso deve aumentar. No ano passado foi criado o período noturno do curso.
No campo da gestão estratégica do petróleo e gás, o Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano, oferece MBA, focado na área de Negócios. O coordenador do MBA, Ricardo Rovai, explica que o programa é associado às questões geopolíticas, onde estão localizadas as principais jazidas, os clusters e principais equipamentos utilizados. “O curso já existia, mas com o pré-sal, emergiu”, afirma.
Na área técnica, o Centro Paula Souza, que mantém as Etecs (Escolas Técnicas) vai inaugurar no ano que vem um curso com ênfase no setor de petróleo e gás, e com duração de dois anos. O processo seletivo será pelo sistema do vestibulinho. A coordenadora Rosangela Rodrigues Leme explica que a quantidade das vagas na ETE Lauro Gomes, em São Bernardo, ainda vai depender da procura pelo curso.
Empresas devem se preparar
A Região conta com 137 empresas cadastradas como potenciais fornecedores da Petrobras. O número é baixo em relação ao universo metalmecânico, que tem cerca de 3.000 empresas no ABCD. Para o presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) regional São Bernardo, Mauro Miagutti, o número é reduzido, pois as exigências da estatal fazem as pequenas empresas terem dificuldades no cadastro.
O Secretário de Desenvolvimento de Diadema, Luis Paulo Bresciani, afirma que o nível de exigência é normal porque se trata de uma atividade complexa. “Qualquer falha em um componente pode representar um grande risco”, considera. Bresciani afirma que as empresas da Região podem ser fornecedoras ou subfornecedoras da Petrobrás, mas é necessário atender o nível de exigência. “O processo de cadastro não é simples, às vezes, leva tempo, por isso, é importante a preparação das empresas, que elas participem do processo de capacitação para se tornarem competitivas”, finaliza.
Para Miagutti, a burocracia afeta desde o preenchimento do cadastro às documentações necessárias e certificados. “A Petrobrás se comprometeu em acompanhar o processo de credenciamento, dar uma consultoria para ajudar as pequenas empresas, mas ainda falta esse apoio”, reclama.
Do ABCD Maior