Trabalhadores na ArcelorMittal realizam encontro nacional em BH

Reuniram-se na capital mineira representantes de 15 plantas da multinacional no país

Entre os dias 22 e 23 de julho, foi realizado em Belo Horizonte, o Encontro Nacional dos Trabalhadores na ArcelorMittal. A atividade foi realizada na Escola Sindical 7 de Outubro.

“Este encontro consagrou um dos principais objetivos do trabalho em rede que é a defesa dos interesses dos trabalhadores, independente das diferenças que possam existir entre as entidades sindicais”, disse o membro da coordenação do Comitê Nacional dos Trabalhadores na ArcelorMittal, José Wagner de Morais.

Segundo Wagner, que também é presidente da FEM/CUT-MG e secretário de Finanças da CNM/CUT, estiveram presentes representantes de 15 plantas ArcelorMittal que puderam trocar informações, atualizar os balanços comparativos – que há três anos vêm sendo feitos pelo Comitê – e traçar suas estratégias conjuntas. “Os temas priorizados neste encontro foram a saúde e segurança no trabalho e a negociação da PLR, que está em curso na maioria das plantas”, disse.

O primeiro tema, foco do discurso da empresa em todo o mundo, e motivo da organização de um Comitê Global Misto sobre Saúde e Segurança, foi o que mais demandou a atenção dos dirigentes. “É inadmissível que a empresa seja tão contraditória, ao passo que propaga a idéia de ser uma corporação comprometida com o tema. Tivemos cinco acidentes fatais nas plantas do Brasil apenas no primeiro semestre de 2010. Mas a empresa não tem essa mesma estatística, e sabe porque? Porque a maioria dos falecidos eram trabalhadores terceirizados”, relatou.

Estes companheiros estavam trabalhando dentro das plantas ArcelorMittal, contratados por uma empresa que é prestadora de serviços, mas a multinacional diz não ter responsabilidade. Para uma empresa que diz estar tão comprometida com a saúde dos trabalhadores, isso é uma contradição.

“Os trabalhadores de Osasco sabem agora o que acontece em Feira de Santana e estes sobre Itaúna, João Monlevade, Juiz de Fora, Timóteo ou outro”, alerta Wagner. Juntos têm o objetivo de mostrar aos trabalhadores que nem tudo que lhes é dito, corresponde a  realidade. A palestra feita pelos técnicos do DIEESE apresentou a conjuntura do setor siderúrgico e da empresa. Os dados serão utilizados para as negociações que estão por vir.

Os departamentos de RH Arcelor Mittal se reuniram no mesmo dia que o Comitê Nacional dos Trabalhadores e este foi o argumento dado para nos impedirem de fazer uma visita à planta de Contagem-MG. “Esperamos que isso não aconteça em outras plantas pois a proposta do Comitê é somar nas propostas e na melhoria da qualidade de vida e de trabalho de todos que representam”, finalizou.

Leia abaixo a carta de repudio entregue em todas as plantas e às entidades internacionais responsáveis, como a Federação Internacional dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas (FITIM).

NOTA DE REPÚDIO
Mortes na ArcelorMittal Brasil

A Rede dos Trabalhadores na ArcelorMittal Brasil manifesta seu repúdio às  condições de trabalho oferecidas pelas unidades da empresa no país, bem como sua política de Recursos Humanos – que atua como se cada trabalhador e trabalhadora fosse uma peça de reposição.

A política de Recursos Humanos nas plantas Arcelor Mittal Brasil é de ganância pelo lucro e tem feito com que trabalhadores percam a vida. Ainda estamos no mês de junho de 2010 e 5 trabalhadores já morreram em diferentes plantas da empresa. Não podemos entender esse fato de outra forma que não o absurdo descaso com a saúde e a segurança do conjunto dos trabalhadores na ArcelorMittal Brasil.

Ressalta-se que não estamos mencionando diversos casos de mutilação ocorridos na planta de Campinas/SP – que não se enquadram com acidentes fatais, mas em muitas situações impossibilitam jovens trabalhadores de exercerem sua profissão ao longo da vida.

As mortes ocorreram nas plantas de Timóteo/MG, Cariacica/ES, João Monlevade/MG e Tubarão/ES e foram todas avaliadas pela empresa. Repudiamos também esse método! Acreditamos que o processo de investigação deve ser coletivo, incluindo todas as partes interessadas, e de acordo com a política de saúde e segurança do grupo ArcelorMittal.

Não entendemos qual o problema em envolver os representantes sindicais na apuração dos fatos. Ora, se a empresa está agindo de acordo com suas próprias políticas mundiais, se o atendimento aos trabalhadores diretos e/ou terceirizados atende aos acordos mundialmente assinados pela empresa e às legislações nacionais, qual o problema?

O problema é que a empresa conclui seus relatórios sempre depositando a culpa no trabalhador morto. Afirma que não houve cumprimento dos procedimentos de segurança. Ora, mesmo se essa fosse a exclusiva razão para os acidentes, a empresa não deixaria de ter responsabilidade. Ela não deve permitir que os trabalhadores não atendam às normas de saúde e segurança e, para tanto, deveria ter mecanismos de controle. Mas a questão é que a empresa não elenca, e tampouco estuda os diversos fatores que propiciam uma fatalidade.

O Comitê avalia que há falhas inclusive nos procedimentos de segurança que os trabalhadores devem seguir, e isso também contribui para a ocorrência dos acidentes fatais. E nosso posicionamento não é do acaso, se sustenta no relatório feito pela própria empresa (unidade Cariacica/ES) que foi disponibilizado aos representantes da Rede dos Trabalhadores na ArcelorMittal Brasil.

A empresa não admite as falhas nos procedimentos de segurança exigidos, mas contraditoriamente o referido relatório determina um prazo para as correções no mesmo. Como podemos acreditar nas alegações da empresa se ela mesmo se contradiz?
 
Os representantes dos trabalhadores exigem a imediata correção das causas que levaram aos acidentes, e à criação do “Comitê Misto de Saúde e Segurança” em cada unidade instalada no país. Essa atitude nada mais é que o cumprimento do acordo firmado entre a Federação Internacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (FITIM) e a direção Mundial da ArcelorMittal.
 
É inadmissível que a empresa firme um acordo, crie espaços em prol da saúde e segurança dos trabalhadores em alguns países, e no Brasil não. Também é inaceitável uma empresa que tendo lucrado US$1,566 bilhão em 2009 (só nas plantas do Brasil) não tenha uma política de prevenção de acidentes eficaz e eficiente, que não respeite a vida daqueles que são os efetivos responsáveis pela sua manutenção e expansão: os trabalhadores.

Todo nosso repúdio a essa postura!

Rede dos Trabalhadores da ArcelorMittal no Brasil.

Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos do Espírito Santo, Sabará – MG. BH/Contagem-MG, Timóteo-MG, Juiz de Fora – MG, Piracicaba – SP, Osasco – SP, Campinas/Hortolândia – SP, Feira de Santana – BA, Ribeirão Pires/ABC – SP Vespasiano – MG , João Monlevade – MG.

Da CNM/CUT (Flávia Silva e Valter Bittencourt).