Trabalhadores na Fris continuam em greve e Sindicato começa arrecadação

Há duas semanas em greve e há dois meses sem salário, os companheiros e companheiras na Fris Moldu Car enfrentam uma situação desesperadora. Eles continuam parados dentro da fábrica para impedir que o patrão leve o patrimônio. O Sindicato lançou campanha na categoria para manter movimento.

Sem dinheiro para transporte nem para comer, há quase duas semanas que o preparador de injetora Apolônio Ferreira Gomes e o operador de curvadeira João Antonio de Souza dormem em camas improvisadas em bancadas na Fris Moldu Car, de São Bernardo. O colchão é de papelão e não tem travesseiro ou cobertas.

Há duas semanas, os cerca de 280 trabalhadores na fábrica estão em greve, cobrando o pagamento do 13º do ano passado e dos salários de janeiro e fevereiro.

Como seus demais companheiros, Apolônio e João também estão lá porque têm fé num desfecho favorável à luta e para evitar que, num outro golpe, o  patrão retire as máquinas.

Um ato ontem na Fris reuniu representantes sindicais de várias fábricas da base para uma injeção de ânimo na luta e solidariedade aos companheiros. Hoje começa uma campanha de arrecadação na categoria (veja abaixo).

Desespero – João é solteiro e mora sozinho no Jardim Detroit. Mas Apolônio teve a vida pessoal arruinada desde que os companheiros e companheiras na Fris começaram a sofrer com os atrasos no pagamento, há seis anos.

“Chegava em casa com cem contos (R$ 100,00) e minha mulher dizia que não dava para pagar as contas atrasadas. Eu pedia paciência, dizia que as coisas iriam melhorar, até que ela não aguentou mais”, relembra ele com tristeza. Uma vaquinha entre parentes comprou uma passagem para ela e os três filhos menores e a família retornou para Valença, no Piauí, há um ano e meio.

Histórias semelhantes se repetem para centenas de trabalhadores na Fris. Grande parte deles teve esperança de que a situação melhoraria e hoje está na mão.

De 2001 até agora a fábrica passou pelas mãos de quatro donos diferentes. Desde então os salários passaram a sofrer atrasos constantes. INSS e FGTS não foram recolhidos. O pessoal desconfia que o mesmo aconteceu com o Imposto de Renda. As pensões alimentícias descontadas também não são repassadas.

Futuro incerto para todos

Trabalhadores que aderiram a um PDV no final do ano passado receberam apenas R$ 3 mil e o acordo para o restante do pagamento não foi cumprido pela fábrica.

O operador José Rufino Irmão afirma que o restinho daqueles R$ 3 mil só dá para os próximos dias. Depois, não sabe o que fará.

A montadora aposentada Maria Nazaré Ferreira, que também saiu no final do ano, não sabe como vai se virar para manter seis dos seus sete filhos. “A gente vai passar apertado só com o dinheiro da minha aposentadoria”.

A mesma situação é do operador de extrusora Lafaiete Martins de Souza, que dependerá do seguro desemprego para se manter nos próximos meses. “Está meio difícil conseguir um novo emprego”, avalia. O plainador ferramen-teiro, Argemiro Batista da Silva, que trabalha  na Fris há 38 anos, diz que a partir de hoje não sabe se terá dinheiro para continuar indo à fábrica.

O mesmo acontece com Seiken Taba, ferramenteiro há 40 anos, um dos companheiros que aceitou trabalhar como terceiro e também tomou um calote.

Sindicato começa arrecadação

Os Comitês Sindicais de toda a categoria começam hoje arrecada