Trabalhadores na Mercedes revertem demissões e encerram greve

Foto: Adonis Guerra

Em assembleia na manhã de ontem, os companheiros na Mercedes aprovaram por unanimidade a proposta negociada entre o Sindicato e a montadora, que garantiu o cancelamento de cerca de 1.500 demissões e estabilidade por um ano para todos os companheiros.

O acordo inclui a adesão ao Programa de Proteção ao Empre­go, o PPE, por nove meses. A redução da jornada de trabalho será de 20% e a redução do salário de 10%, já que o Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT, complementa a metade da redução.

“A felicidade e a vibração que vocês passaram com o resultado nos dão a certeza de que estamos no caminho certo”, afirmou o presidente do Sindicato, Rafael Marques. “Nesta semana de greve, vocês foram protagonistas de uma luta solidária, fraterna, aguer­rida e unida para alcançar o objetivo de reverter as demissões. O PPE é o programa certo para dar conta da situação atual de crise”, defendeu. “Vamos pressionar o governo pelo Programa de Renovação da Frota de Caminhões e por medidas de liberação de crédito”, destacou.

O PPE inverte a lógica de custeio de quem já perdeu o em­prego, como é o seguro-desemprego, e protege os trabalhadores em momentos de baixa da produção. “É o primeiro acordo de PPE aprovado em montadora no ABC. Todos que receberam o telegrama de rescisão do contrato já podem voltar ao trabalho”, disse o secretário-geral da CUT e CSE na Mercedes, Sérgio Nobre.

O diretor de Comunicação do Sindicato e CSE na Mercedes, Valter Sanches, relembrou a dificuldade para a retomada das negociações. “Foi uma intensa mobilização dos trabalhadores com a greve e a Marcha Contra as Demissões, que reuniu 10 mil companheiros na Anchieta”, contou.

O presidente do Sindicato participa hoje, em Brasília, de audiência pública da Comissão Mista do Congresso com as centrais sindicais para discutir o PPE. A Câmara deverá votar o PPE no dia 1º de outubro e o Senado, dia 8 de outubro.

A presidenta Dilma Rousseff assinou, no dia 6 de julho, a Medida Provisória nº 680 que institui o PPE. Na base, três em­presas já aprovaram o acordo: Rassini e Trefilação União, em São Bernardo, e Pricol, antiga Melling, em Diadema.

“Esta mobilização é um recado para a Mercedes de que os trabalhadores vão defender os empregos, investimentos e política industrial aqui. Vamos seguir firmes na luta”, concluiu Rafael.

Na luta pelos empregos!

“Em mais de três déca­das na fábrica, esta foi a primeira vez que fui demitido, mas sempre acreditei na vitória. Permaneci confiante que voltaria ao meu posto de trabalho e nunca perdi a espe­rança, justamente por fazer parte de um Sindicato de luta, cheio de histórias e experiência para garan­tir os direitos dos trabalhadores”, Maurício José Oliveira, há 31 anos na Manutenção

“Depois da assembleia que aprovou o acordo, estou respiran­do aliviada. Agora o ar está até passan­do mais leve. Tenho apartamento para pagar e estudo Administração. A gente fica aliviada também pelos colegas. Foi um desespero geral. A greve foi sofri­da, mas a vitória valeu a pena. Seria uma grande perda para toda a região se as demissões se concretizassem”, Valquiria Luna da Silva, há 6 anos na Pré-Montagem de Cabinas

“Todo mun­do precisa do emprego e o Sin­dicato fez o que tinha que ser feito ao negociar uma solução que revertesse as demissões. A adre­nalina e a preocupação estavam altas e pensava em como sustentar a família. Tenho três filhos e todos estão em es­colas particulares. A nossa luta valeu a pena. Agora é só felicidade e é como se eu estivesse entrando pela primeira vez na Mercedes”, Adilson Fialho, há 8 anos na Manutenção

“Foi um pesa­delo e um so­frimento quando recebi o telegrama na semana passada. Estavam todos tristes e apreensivos na fábrica, tanto quem recebeu quanto quem não recebeu o telegrama. Achei o acordo bom, justo e melhor do que o anterior. Ficamos unidos na luta e agora conquistamos a reversão das demissões. Fechei os olhos e votei na assembleia. Agora é voltar firme ao trabalho”, Daniela Lorente, há 15 anos em Cabinas

“A semana foi de muita ex­pectativa e de mui­tos apoios recebidos. O Sindicato e o Comitê acharam uma saída vitoriosa para passar por este momento difícil. Tenho dois filhos de 12 e 17 anos e falei para eles continuarem estudando sem preocupação porque sabia que a empresa não ia vencer esta luta. Sabia que nós íamos reverter a decisão pela história que o Sindicato tem e foi o que aconteceu”, Ivan Bezerra da Silva, há 12 anos no CKD

Da Redação.