Trabalhadores na Panex resistem contra fechamento da fábrica

(Foto: Edu Guimarães)

Cerca de 300 companheiros na Panex, em São Bernardo, iniciaram o processo de resistência após o anúncio feito pela empresa de transferência da planta para Itatiaia, no Rio de Janeiro. Em assembleia ontem, foram tirados os encaminhamentos de luta e uma nova assembleia está marcada para amanhã.

Os trabalhadores decidiram suspender temporariamente a vigília realizada na porta da fábrica desde quinta-feira, dia 16, quando o anúncio foi feito. As negociações do Sindicato com a empresa foram iniciadas ontem na Sede. Não houve produção ontem e a previsão é que hoje continue paralisada.

“O processo começou muito mal por parte da empresa. Ninguém teve a desfaçatez que o Grupo SEB (detentor da marca Panex) teve ao não fazer um processo de conversa decente nem tratar os trabalhadores com dignidade”, afirmou o presidente do Sindicato, Rafael Mar­ques. “O que aconteceu na quinta-feira tem que ser contado para não se repetir nunca mais”, prosseguiu.

“Vamos conversar com a matriz francesa e tentar fazer com que suspenda o anúncio”, contou. “O Grupo SEB precisa nos dar tempo para mostrar que temos compromisso com o emprego e a produtividade e buscar uma alternativa digna para esta planta. Os traba­lhadores aqui fazem a diferença e a luta vai ser longa”, ressaltou.

O diretor executivo do Sindicato e trabalha­dor na Panex, José Paulo da Silva Nogueira, o Zé Paulo, agradeceu a solidariedade da categoria nos quatro dias de vigília.

“O Sindicato é forte porque abraça as causas e não arredou o pé diante da covardia e saca­nagem da empresa”, disse. “Não vamos aceitar ser tratados como gado cercado por seguranças no circo que a fábrica montou. Temos uma companheirada aguerrida e um Sindicato de luta”, continuou.

Para a vereadora de São Bernardo e trabalha­dora licenciada na Panex, Ana Nice Martins de Carvalho, a empresa surpreendeu pela falta de respeito e consideração com os trabalhadores. 

“Foi uma sacanagem muito grande com todos nós. A nossa dor e indignação são muito grandes e a nossa resistência tem que ser à al­tura”, convocou.

HISTÓRICO

O CSE na Panex, Crivone Leite da Silva, con­tou como a empresa fez o anúncio que surpreen­deu Sindicato e trabalhadores. Na quinta-feira, dia 16, ao mesmo tempo em que a direção do Grupo SEB estava no Sindicato para informar sobre a decisão, o RH chamou uma reunião com a representação dos trabalhadores que estava na fábrica sobre assuntos internos enquanto levavam os companheiros para o restaurante cercado de seguranças.

“Quando fomos avisados pelos trabalhado­res sobre o que estava acontecendo, seguimos para o restaurante e a empresa já estava no meio do comunicado”, disse.

“Pedi para falar no microfone e não deixa­ram. Falei sem microfone mesmo que era uma trairagem da empresa dizer que já sabíamos da transferência”, afirmou.

“Mandaram os trabalhadores saírem pela porta de trás, não deixaram nem sair pela porta que entraram. É um tratamento desumano para quem trabalhou a vida inteira”, continuou.

A representação dos trabalhadores chamou os companheiros de volta para tirar os enca­minhamentos. No dia seguinte, foi realizada assembleia no Sindicato. O secretário-geral dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, ressaltou a importância da união dos trabalhadores na luta.

“A estratégia perversa da fábrica é anunciar o fechamento com dez meses de antecedência e apostar no cansaço. A concepção empresarial é que os trabalhadores são números de centro de custo, não que são José, Maria, Antonio e que cada um tem seus sonhos e futuros”, explicou.

“A nossa estratégia é a unidade dos com­panheiros e a solidariedade da categoria. A obrigação do Sindicato é tentar reverter essa decisão e vamos buscar todos os meios para isso”, concluiu.

Da Redação