Trabalhadores na Scania renovam acordo que garante empregos e investimentos por mais dois anos
Segundo o CSE, negociações perduram desde 2013 e agora estão voltadas para atender especificamente as oscilações do mercado como, por exemplo, falta de peças
Em assembleia realizada na tarde da última sexta-feira, dia 22, os trabalhadores na Scania, em São Bernardo, aprovaram a renovação do acordo de flexibilidade por mais dois anos, que garante a manutenção dos postos de trabalho e novos investimentos na planta da montadora.
Segundo o coordenador da representação na fábrica, Francisco Souza dos Santos, o Maicon, o processo de negociação da renovação do acordo de flexibilidade foi difícil, pois o anterior havia sido realizado durante o desgoverno Bolsonaro e o foco foi garantir o emprego dos trabalhadores e trabalhadoras. Já na renovação deste acordo, em nosso entendimento, o foco da negociação estava voltado para atender especificamente as oscilações do mercado como, por exemplo, falta de peças.
Maicon lembrou ainda que este mesmo acordo, que perdura desde 2013, foi essencial durante a pandemia, pois muitas empresas fecharam as portas, outras ficaram em sistema de layoff, com suspensão dos contratos de trabalho, redução de jornada e salário. “Graças a luta da nossa base na fábrica, do Comitê Sindical de Empresa e apoio do Sindicato não tivemos nada disso”, contou.
“Nas negociações, conquistamos as exclusões do saldo positivo, três sábados dentro de quatro semanas e o trabalho por dois sábados seguidos, com recuperação apenas em sábados alternados. Foi melhorada ainda a majoração em relação aos sábados de recuperação e aprovada a troca de datas de feriado”, disse Maicon. “Os demais pontos do acordo ficam inalterados”.
Crítica
Antes da votação, o vice-presidente dos Metalúrgicos do ABC e CSE na montadora, Carlos Caramelo, abriu sua fala saudando as trabalhadoras na Scania. “Março é o mês da mulher, mas deveriam ser todos os dias. Gostaria de pedir desculpa a todas vocês por esta sociedade machista que existe, onde o estupro de uma mulher custa um milhão de euros. É muito triste, em 2024, ver a impunidade acontecer com as mulheres desta forma”, explicou o dirigente relacionando a fala ao caso do ex-jogador Daniel Alves.
Futuro e participação
Caramelo contou que uma delegação da entidade esteve no início do mês na China para conhecer o processo de produção do país, transição de novas tecnologias do setor automotivo, experiências na área de comunicação, formação e qualificação profissional e dialogar melhorias para a região do ABC e da categoria.
“Quem acompanha as redes sociais do Sindicato sabe também dos diálogos junto ao governo federal para que novas políticas industriais aconteçam com incentivo ao setor de caminhão, ônibus e demais componentes. Inclusive, nesta terça-feira, dia 26, os Metalúrgicos do ABC estão em Brasília para acompanhar a assinatura de atos relacionados ao Programa Nacional Mover (Mobilidade Verde e Inovação)”, explicou.
“Este é um programa que nosso Sindicato participa há muito tempo e pode trazer conteúdo local, produção e autonomia ao nosso país”, disse o vice-presidente. “No nosso caso, pega em cheio a renovação de frota. É um programa específico para caminhões e ônibus com ampliação para carros. É importante que todos estejam atentos a esta pauta”.
“Outro grande desafio hoje é a transição energética. Quando as montadoras vão decidir que o caminhão deixa de ser a diesel e invistam no motor elétrico?”, questionou Caramelo. “É importante acompanhar a dinâmica do mundo do trabalho, entender qual é o papel do Sindicato, o papel da militância, o papel de cada um para que possamos intervir nestes processos”.
“A renovação do acordo de flexibilidade é uma das negociações com a fábrica, por isso é importante todos acompanharem nossas ações de perto porque os melhores representantes da nossa base somos nós. Essa unidade, aliada à formação, se faz em processo coletivo. Sozinho ninguém vai resolver nada. A representação precisa de cada um de vocês legitimando todo o trabalho”, concluiu.