Trabalhadores na Toyota defendem a permanência da fábrica em São Bernardo

Em passeata pela principal rua de comércio da cidade, Sindicato alertou população sobre os impactos do fechamento da planta

Foto: Adonis Guerra

Indignados e na luta pela permanência da Toyota em São Bernardo, os trabalhadores na planta se reuniram em plenária no Sindicato na manhã de ontem e, em seguida, decidiram sair em passeata pela Rua Marechal Deodoro até a Praça da Matriz. Pelo centro da cidade, o Sindicato buscou dialogar com os comerciantes e a população sobre os impactos que uma decisão como essa traz para toda a cidade e a região.

Foto: Adonis Guerra/SMABC

“Estamos fazendo essa passeata para dizer que se a Toyota não ficar na cidade, não são somente os trabalhadores e suas famílias que perdem, o comércio perde, todo mundo perde. A Toyota não demonstra a menor responsabilidade com os trabalhadores e as trabalhadoras que produziram a riqueza dessa fábrica aqui no Brasil. Estamos lutando por empregos, demonstrando que o país do jeito como está, sem política voltada para a indústria, não tem futuro”, declarou durante a passeata o presidente dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges.

Os trabalhadores decidiram que uma nova mobilização, junto com seus familiares, será realizada hoje, às 10h, na portaria da empresa.

Toyota intransigente

Após assembleia na manhã de quarta-feira, 6, quando os trabalhadores aprovaram que o Sindicato protocolasse pedido de reunião oficial com a montadora, a conversa com o presidente da Toyota no Brasil, Rafael Chang, foi realizada no período da tarde. A Toyota reiterou a posição do fechamento da empresa. 

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O diretor administrativo do Sindicato, Wellington Messias Damasceno, que acompanha as discussões na montadora, explicou que a defesa dos Metalúrgicos do ABC é pela abertura de uma mesa de negociação que reúna representantes dos trabalhadores, da empresa, entes governamentais e entidades para discutir a situação da planta de São Bernardo.

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“Não é possível que a Toyota falasse o tempo todo que a planta era rentável e produtiva, agora anuncia o fechamento de forma unilateral e não se dispõe a buscar alternativas. Essa postura é intransigente, não combina com o que a Toyota sempre pregou no Brasil e no mundo”, criticou.

O dirigente explicou que o Sindicato tem buscado todos os apoios possíveis para se envolver na discussão.

“A nossa posição não é intransigente, é a posição do diálogo. Sempre solicitamos a negociação sobre o futuro da planta e a Toyota se negava a fazer porque dizia que não havia necessidade, que a fábrica estava bem. Os trabalhadores estão incrédulos e indignados, a empresa não pode encostar os trabalhadores contra a parede. Temos que esgotar todas as possibilidades de negociação. A nossa luta é pela suspensão da decisão, que é o mais coerente que a Toyota pode fazer agora”, defendeu.

TRABALHADORES PREOCUPADOS

 “O fechamento da fábrica impacta em tudo. Desde que entrei na Toyota, ela sempre foi uma empresa modelo, o desenvolvimento de outras plantas só foi possível graças à fábrica de São Bernardo. Quando entramos em uma companhia dessa, acreditamos que vamos nos aposentar lá, fazemos um plano de carreira. Hoje nos sentimos traídos. Tenho a minha esposa que trabalha, minhas filhas, meu sogro com mais de 80 anos, deixar a cidade não é uma decisão só minha”, Rogério de Oliveira, área de melhoria e desenvolvimento de processo, 12 anos de fábrica.

Foto: Adonis Guerra/SMABC

“Quando ela transferiu o escritório e a parte administrativa para Sorocaba, ficamos apreensivos, imaginávamos que isso poderia acontecer, mas não da forma como foi anunciado. Minha esposa é professora, tem estabilidade, meus filhos já são adultos, tenho minha casa aqui, para mim não seria viável ir para o interior. Vamos lutar, temos que ir pra cima, não podemos abrir mão, vamos brigar até o final”, José Cícero Cassiano dos Santos, área de usinagem, 25 anos de fábrica.

Foto: Adonis Guerra/SMABC

“Todos fomos pegos de surpresa. Já existia um receio, porque de uns três anos para cá não se falou mais em investimentos, não vimos movimento nesse sentido. Mas sempre ficamos com a esperança de trazer produtos novos para São Bernardo. A empresa nunca se pronunciou em relação a fechar, pelo contrário, sempre ouvíamos que é uma empresa lucrativa. Foi um susto muito grande. A nossa expectativa é lutar pela permanência da fábrica e que ninguém precise se deslocar para o interior. Particularmente não tenho planos e não consigo ver a possibilidade de me transferir”, Marcelo Vitorino de Souza, ferramentaria de prensa, 25 anos de empresa.

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