Trabalhadores na Volks terão redução de jornada para enfrentar crise de componentes
Medida será aplicada no retorno das férias coletivas programadas de 27 de junho a 7 de julho
A falta de componentes eletrônicos e peças segue prejudicando a produção nas montadoras. Apesar da alta demanda, os veículos não podem ser finalizados, o que tem motivado diminuição de trabalho.
Na Volks, em São Bernardo, os Metalúrgicos do ABC negociaram com a direção da fábrica a redução de jornada com redução de salário para passar pelo período de instabilidade. A medida está assegurada pelo acordo válido por cinco anos firmado pelo Sindicato. A decisão foi comunicada aos trabalhadores ontem em assembleias internas.
O programa tem percentual de redução de 24% na jornada e 12% nos salários, sendo cinco dias a menos de trabalho, será implantado logo após o término das férias coletivas que vão de 27 de junho a 7 de julho.
Menos impacto na cadeia produtiva
Segundo o diretor administrativo do Sindicato e representante na Volks, Wellington Messias Damasceno, a opção pela redução de jornada tem menor impacto na cadeia produtiva e para os trabalhadores terceiros.
“A Volks queria parar um turno, nós negociamos para, ao invés disso, reduzir a jornada e manter os turnos funcionando, o que diminui o impacto na cadeia de produção, nos fornecedores e, sobretudo, nos terceiros que não têm o mesmo acordo que os trabalhadores na Volks”.
Como não há previsão para o fim da crise da falta de peças e componentes, que deve entrar pelo próximo ano, Wellington explicou que a medida será avaliada mês a mês e pode sofrer alterações até a normalização da situação.
Valorização do acordo
O dirigente destacou a importância do acordo e lembrou que o Sindicato tentava negociar um nos mesmos moldes com a Toyota, que recentemente anunciou o fechamento da planta na cidade.
“O acordo assegura previsibilidade, longevidade e investimentos. Além de garantir questões do dia a dia, como data-base, banco de horas e PLR, o acordo traz ferramentas para administrar momentos de crise ou aumento de produção e assegura investimentos. Inclusive temos cobrado que a fábrica tem capacidade e competência para produzir o carro híbrido e elétrico, a Volks não pode ficar para trás”, completou.
Falta ação do governo
Wellington ressaltou que foi necessário usar a ferramenta do acordo, já que não há um programa federal para momentos como este. “O governo não tem nenhuma medida de proteção dos empregos, o que seria o mais importante no momento. Também não tem política para desenvolver esse tipo de componente no país, pelo contrário, a única fábrica de semicondutores foi fechada”.
“Além disso, não temos uma política industrial que garanta que parte dos produtos importados sejam feitos no Brasil. Política industrial não é o que esse governo faz de zerar imposto para a importação para trazer de fora carros e ônibus elétricos que poderiam ser produzidos aqui gerando empregos”, concluiu.