“Trabalhadores precisam tomar as rédeas da discussão do futuro da indústria”

Para debater a indústria do futuro, os impactos na vida dos trabalhadores e a organização sindical, o diretor executivo do Sindicato, Aroaldo Oliveira da Silva, participou do programa ‘Conexão Caipirinha’, do Canal Pé de Limão, na segunda-feira, dia 20, com apresentação de Rafael Monico.

Foto: Adonis Guerra/SMABC

A íntegra está disponível nas redes do Canal Pé de Limão e da TVT. O programa ‘Conexão Caipirinha’ é veiculado todas as segundas, às 20h.

Confira os principais pontos da participação de Aroaldo:

Ausência do governo

“Com a ausência de política econômica e de política industrial para dar suporte às empresas e manter os empregos, o que tem acontecido no Brasil é o fechamento de empresas. Temos debatido alternativas, mas desde o golpe na presidenta Dilma, o que estão fazendo é o desmonte do Estado brasileiro. A pandemia escancara esses prejuízos a toda a população.

As linhas do BNDES, que é o banco fomentador da indústria, e as linhas de crédito anunciadas pelo governo não estão chegando nas empresas neste momento de pandemia. Os trabalhadores precisam tomar as rédeas dessa discussão do futuro da indústria.”

Indústria 4.0

“O debate da Indústria 4.0 está na pauta do Sindicato. O Brasil tem 210 milhões de habitantes e precisa ter uma indústria forte para gerar riqueza e fazer girar a roda da economia. Só o setor de serviços não seguraria um país deste tamanho, até porque não temos um Vale do Silício aqui. O país pode cair na miséria absoluta se não conseguir se inserir no debate da Indústria 4.0.

Ainda mais que o Brasil teve uma industrialização tardia, depois da crise de 1929, quando as empresas do mundo já desenhavam entrar na 3ª Revolução Industrial. E o país está sofrendo uma desindustrialização precoce desde a década de 80. Ao mesmo tempo em que algumas empresas se adaptam a elementos da Indústria 4.0, tem empresas que estão no que a gente chama de ‘Indústria 0.4’, há uma defasagem tecnológica enorme.

Nos Estados Unidos, tem um gabinete para discutir 4.0 dentro da Casa Branca. A Indústria 4.0 tem que ser estratégica para o país, o governo tem que pegar para si e aqui não vemos nada disso. O investimento em inovação, que é o ponto chave, é mínimo.

Se não entrar no debate, o país vai ficar apenas com a produção de elementos básicos que os países desenvolvidos não querem. Por exemplo, a produção de carne brasileira, que não gera valor agregado para o povo, não gera empregos nem renda de qualidade.”

Futuro no pós-pandemia

“Temos muita preocupação, não tem horizonte com esse governo federal de buscar alternativas de futuro, novas tecnologias, nova indústria e discutir quais são os novos setores que surgem com a tecnologia.

É preciso entrar no tema do veículo elétrico agora ou o Brasil ficará de fora da produção mundial. Mas o Estado brasileiro aposta no agronegócio, que é um setor importante, mas que concentra riqueza, gera poucos empregos e gera tecnologia apenas para produtos primários.”

Desafios

“Um dos maiores desafios do movimento sindical, além de pensar o futuro da indústria, é o futuro da organização sindical, como dialogar com a juventude e dar conta das demandas dos trabalhadores que estão surgindo nos novos setores econômicos, como motoristas e entregadores por aplicativos.

Por exemplo, no Sindicato, a organização se dá a partir do local de trabalho. Tivemos a posse da nova diretoria no fim de semana, são 193 CSEs em 55 fábricas da base. Conseguimos aqui ouvir o trabalhador no pé da máquina. Mas sabemos que essa não é a realidade do Brasil.

Por isso, é uma tarefa enorme do movimento sindical se comunicar com os novos trabalhadores e pensar no próximo passo da organização da classe trabalhadora. E sempre deixando claro que a nossa luta principal é contra a precarização, é em defesa de melhorias nas condições de trabalho e dos salários.

A nossa certeza é que a luta e a organização dos trabalhadores precisam continuar. Esse governo não escondeu que o trabalhador tem que escolher entre ter direitos ou ter emprego. A classe trabalhadora tem que estar à frente desse debate.”