Trabalhadores querem consolidação de conquistas

Embora a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais tenha sido prorrogada para o segundo semestre no Congresso, trabalhadores do ABC avaliam que os primeiros meses do governo Dilma Rousseff (PT) mostram que ações iniciadas na gestão Lula terão continuidade, assim como fora prometido durante a campanha eleitoral. O principal anseio visa garantir a manutenção do pé no acelerador da economia.

“Este é o ano da consolidação das políticas econômicas e sociais adotadas pelo governo Lula. Enquanto durou a eleição, Dilma foi uma promessa. Agora, no poder, a presidente vai se esforçar para colocar sua própria marca num governo que quer e precisa continuar sua vocação social, de inclusão dos mais pobres, de expandir a renda da base da pirâmide econômica. Portanto, os trabalhadores, os jovens e até mesmo os que já ultrapassaram a barreira dos 50 anos têm muito a comemorar com os acertos que virão”, prevê Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá.

Entre as intervenções do atual governo, o dirigente cita a redução dos custos da formalização do programa Microempreendor Individual e o anúncio do investimento de R$ 3,5 milhões para treinar e qualificar os trabalhadores até 2014. No Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, berço político do ex-presidente da República, a comemoração deste 1º de maio, Dia do Trabalho, visa reforçar a pauta de reivindicação já existente. “Não podemos esquecer que, infelizmente, ainda existe trabalho escravo no Brasil e que milhões de trabalhadores não têm carteira assinada. Por isso, ainda há muito que lutar para garantir a eliminação desses graves problemas e assegurar a ampliação dos direitos trabalhistas, com a democratização e modernização das relações de trabalho e organização sindical livre e autônoma”, diz Sérgio Nobre, presidente da entidade.

Conquistas
Segundo Nobre, entre as conquistas a serem comemoradas, estão o aumento real obtido pelos trabalhadores (um dos maiores das últimas décadas), a compra de um imóvel para a construção do centro de formação técnica profissional em parceria com o Senai e universidades da região, além da TVT (primeira emissora do Brasil voltada aos trabalhadores). Mais recentemente, segundo Nobre, o sindicato comemorou a indicação do ex-presidente da entidade, José Lopez Feijó, para ser o interlocutor do governo federal junto aos movimentos sociais. “O governo federal prova que quer manter o diálogo e a ligação estreita com os trabalhadores”, diz o sindicalista.

Sindicalista quer fortalecer acordos coletivos
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – ligado a CUT (Central Única dos Trabalhadores) – terá comemoração em São Paulo, mas com evento específico também na região. Os festejos ocorrerão no Paço de São Bernardo. Sérgio Nobre aproveitará a ocasião para propagar o pleito pela aprovação do projeto de lei, em elaboração na entidade, que irá fortalecer e ampliar a representação no local de trabalho por meio da negociação e acordos coletivos.

Segundo Nobre, os Metalúrgicos do ABC têm modelo de representação sindical, o CSE (Comitê Sindical de Empresa), que precisa ser expandido para o restante do Brasil. “Esse modelo, que completa 30 anos, é exemplar: nas fábricas que têm CSE não há fraude contra o trabalhador e os direitos são respeitados, porque a fiscalização é diária, além de haver negociação permanente dos problemas específicos. Essa, porém, não é a realidade no restante do Brasil”, explica.

Inflação
Durante a comemoração do dia 1º de maio, o sindicato andreense, ligado à Força Sindical, endossará a festa que será realizada em São Paulo. Apesar disso, Martinha alerta que a data servirá para potencializar a atenção do governo federal na esteira econômica.

Para o sindicalista, o principal vilão se chama inflação. “Vamos deixar claro para a presidente Dilma que seu governo precisa adotar medidas urgentes para controlar a inflação que ameaça nossos salários. Precisamos também incentivar a produção com redução rápida nas taxas de juros praticadas no Brasil, as maiores do mundo”, completa.

Trabalhador é escravizado, diz socióloga
A socióloga Luci Praun, professora da UMESP (Universidade Metodista de São Paulo), contrapõe a argumentação sindicalista. Segundo Praun, não houve evolução na relação capital/trabalho tendo em vista que o discurso dos dirigentes sindicais não representa o pensamento da base. “É só ver o grau de exploração a que os trabalhadores estão submetidos. A rotina da produção é tão alucinante que as pessoas estão adoecendo”, afirma. “Os interesses do capital são diferentes do interesse do trabalho”, sustenta.

A especialista contesta, inclusive, os acordos coletivos propagados pelos sindicatos. Na visão de Luci Praun, os números não refletem a realidade. “A produtividade há 10 anos era uma, hoje é outra. Perante os lucros que as fábricas têm, o aumento real dos trabalhadores está desproporcional”. Segundo a socióloga, existem itens pleiteados pela base trabalhista que não constam como prioridades. “Os trabalhadores são contra o banco de horas e a redução do piso de ingresso”, diz. Luci Praun aponta ainda que a luta pela redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas, sem a redução do salário, já está “defasada”. “Isso era reivindicado na década de 1980. Hoje a luta deve ser por uma jornada abaixo de 40 horas devido à produtividade existente e a possibilidade de ampliação dos postos de trabalho”, defende a professora da UMESP, em São Bernardo.

Do Repórter Diário