Trabalho: A escravidão do século 21
Mais de cem anos após a Lei Áurea, o Brasil não se livrou da escravidão. Apenas deu roupagem nova a esse tipo de exploração humana. “Hoje, o trabalho escravo é tão perverso e mais sutil do que há 116 anos (quando foi assinada a Lei Áurea)”, afirmou Patrícia Audi, da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Os escravos eram bens antigamente. O que ocorre é que nos dias atuais eles são descartáveis”, afirmou ela em evento no final do mês passado que discutiu o assunto e a emenda constitucional que determina confisco de terras onde for constatado o trabalho escravo.
Uma das características do novo trabalho escravo é que ele está escondido nos sertões e florestas. Numa batida recente no Pará, diligência do Ministério Público do Trabalho demorou oito horas, dentro de uma mesma fazenda, até chegar ao local onde o crime estava sendo praticado.
Outra destas características é a escravidão por dívida, de acordo com o padre Ricardo Resende, que por 20 anos denunciou o problema no Pará e no ano passado defendeu tese de doutorado sobre o tema. “O escravo contemporâneo é descartável, não vale a pena mantê-lo se não estiver produzindo. E o proprietário nada perde, porque o trabalhador sai sem nada no bolso”, disse o padre.
Ricardo Resende entrevistou 105 trabalhadores que conseguiram a liberdade e, segundo a maioria dos relatos, muitos dos escravos do século 21 não tinham consciência que eram submetidos a esse sistema de exploração. Segundo o padre, um dos fatores que os prende à exploração são as dívidas que assumem nas compras de remédio, roupas e instrumentos de trabalho superinflacionados nas propriedades.