Trabalho e doença são alvos de pesquisa

Primeiro estudo nacional após reestruturação produtiva quer saber como as inovações no trabalho influenciaram a saúde dos trabalhadores.

Pesquisa medirá relação entre trabalho e doença

Pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública farão um levantamento junto aos trabalhadores do País para entender melhor a relação que existe entre trabalho e doenças crônicas como depressão, hipertensão e transtornos mentais.

Estudo nacional do Sesi, com 355 mil trabalhadores, mostrou que 40% deles apresentavam problemas de saúde, com um aumento considerável nas chamadas doenças crônicas.
Para a medicina, tradicionalmente doenças como hipertensão arterial e depressão estão ligadas aos hábitos desenvolvidos conforme o estilo de vida de cada um.

Essas doenças seriam resultado de formas diferentes de alimentação, de falta de atividade física ou do consumo de tabaco e álcool, entre outros fatores.


Eduardo Stotzos disse que faltam estudos sobre saúde do trabalhador no País

Mais tensão
“Os hábitos são importantes e influenciam”, reconhece Eduardo Stotzos, pesquisador da Escola
Nacional, vinculada à Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

“Mas, depois da reestruturação produtiva, não tivemos estudos sobre saúde do trabalhador, apenas pesquisas econômicas e sociológicas”, disse ele.

Por isso, o levantamento investigará, por exemplo, a relação do estresse no trabalho com a hipertensão arterial.

“As inovações organizacionais que acontecera na produção nas últimas décadas, com a redução
de estoque e o número de trabalhadores, tornaram o processo produtivo mais tenso”, destacou o pesquisador.

Ritmo maior aumenta estresse

Hoje, o trabalhador agregou mais tarefas e cuida também da qualidade, manutenção e limpeza. A pausa encurtou, a carga de trabalho aumentou, o tempo ficou menor e a tensão cresceu. Antes, o trabalhador ocupava um posto físico, hoje ele é responsável por três ou quatro máquinas.

“O estresse depende das pressões psicológicas dentro da empresa e também do nível de autonomia que o trabalhador tem sobre a organização do trabalho, que é mínimo”, afirmou o
pesquisador Eduardo Stotzos.

Competição
Por isso, a pesquisa pretende averiguar o quanto as mudanças nos processos de trabalho contribuem para o processo de adoecimento do trabalhador.
“Temos duas constatações. Uma, que o trabalhador está muito doente e, outra, que a competição entre os trabalhadores faz mal à saúde”, resume o pesquisador.