Tragédia em Petrópolis escancara descaso com a população mais pobre

No Brasil mais de 8 mil pessoas vivem em áreas de risco de deslizamentos e/ou enchentes. Após as chuvas de 2011, as prefeituras da região serrana do Rio usaram só 50% dos recursos disponibilizados

Foto: Divulgação

Até a tarde de ontem, uma semana após as enchentes e deslizamentos de terra na cidade serrana de Petrópolis (RJ), o número de óbitos chegava a 185, segundo a Defesa Civil. O trabalho do Corpo de Bombeiros segue incessante no local buscando ainda pelos 83 desaparecidos em meio à imensa quantidade de lama e escombros nas áreas mais atingidas. O número de mortos já supera o de outra catástrofe no município, em 1988, que deixou 171 mortos.

Os Metalúrgicos do ABC destacam que a tragédia escancara a triste realidade do país, o retrato da desigualdade social e do descaso com a população mais pobre.

“Petrópolis é mais um triste exemplo, tivemos tragédias na Bahia, em Minas Gerais, em Franco da Rocha aqui na Grande São Paulo. Todo verão ficamos meio que esperando uma tragédia no período de fortes chuvas. A culpa não é da chuva e não é dos moradores, o que precisamos discutir é uma política habitacional que preserve vidas”, destacou o presidente do Sindicato, Moisés Selerges.

O dirigente completou lembrando que os trabalhadores precisam ter moradia digna com infraestrutura e saneamento básico para não perder sua casa e sua vida em meio a uma tempestade.

Solidariedade

“Enquanto ainda não existe essa política, não podemos perder um dos nossos maiores valores que é a solidariedade, não podemos deixar de ser solidários com aqueles que necessitam de ajuda neste momento”, concluiu.

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Vivendo em áreas de risco

Um estudo pioneiro de avaliação de risco baseado nas características demográficas da população brasileira, realizado pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2018, apontou que o Brasil tinha mais de 8 mil pessoas vivendo em áreas de risco de deslizamentos e/ou enchentes, numa análise de 825 municípios com histórico de desastres. De cada 100 brasileiros, quatro estavam em áreas de risco. No Sudeste, o número é ainda maior, 10 em cada 100, ou 10% da população.

Nos últimos três meses, ao menos 230 pessoas morreram no Brasil pelas chuvas, principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Segundo muitos cientistas, estes fenômenos meteorológicos serão cada vez mais recorrentes, devido à mudança climática.

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Tragédia evitável

Após as chuvas de 2011, quando 900 pessoas perderam a vida, considerado o maior desastre natural da história do Brasil, as prefeituras da região serrana do Rio usaram só 50% dos recursos disponibilizados pelo governo federal. Em toda a Serra, apenas metade dos R$ 2,27 bilhões disponibilizados pelo antigo Ministério das Cidades, hoje Ministério do Desenvolvimento Regional, para a recuperação da região após as enchentes foram usados.

O Portal da Transparência mostra que a gestão municipal gastou mais com luzes de natal e publicidade do que com ações de contenção de encostas. O estado previu construir 7.235 domicílios nos municípios prejudicados. Até agora, foram entregues 4.219.

Além da construção de moradias, outras obras esperadas, há mais de uma década, não ficaram prontas. No Vale do Cuiabá, por exemplo, intervenções de controle de inundações, drenagem e recuperação ambiental na calha de rios pararam em 2014.

Com informações da Rede Brasil Atual