Um golpe contra a classe trabalhadora

Junto com as liberdades públicas e políticas, os trabalhadores estão entre as primeiras vítimas do golpe militar que instalou uma ditadura militar no Brasil em 31 de março de 1964. Debate e exposição de fotos no Sindicato lembrarão o período de arrocho e repressão

O golpe militar que derrubou o presidente João Goulart e instalou uma ditadura no Brasil completa 45 anos nesta terça-feira. A maior parte das matérias jornalísticas que lembra a data costuma destacar a violenta restrição das liberdades públicas e políticas que marcaram o movimento.

Nos textos que publica a partir desta terça-feira, a Tribuna Metalúrgica procura mostrar um aspecto pouco lembrado do golpe: os trabalhadores também estão entre as primeiras vítimas da ditadura.

Os militares usaram a violência para esmagar a organização da classe operária e dos camponeses e impor a implantação de uma nova fase do desenvolvimento do capitalismo no Brasil, baseada na superexploração da mão de obra.

A partir de abril de 1964, a classe operária e os camponeses voltaram a ser tratados como caso de polícia. A intervenção do governo nos sindicatos e a repressão a qualquer manifestação de oposição ao regime eram parte dessa estratégia.

Jânio Quadros, o início da tragédia
A renúncia de Jânio Quadros a Presidência da República, em 25 de agosto de 1961, acelerou as engrenagens do mecanismo que, menos de três anos depois, promoveria o golpe de Estado que derrubou o seu sucessor, o presidente João Goulart.

Ex-professor secundário, Jânio teve uma carreira meteórica na política paulista, elegendo-se sucessivamente vereador, prefeito e governador de São Paulo. Chegou em Brasília com um discurso de falso moralista que, na verdade, ocultava um governo conservador.

Suas primeiras orientações econômicas tiveram caráter recessivo. Promoveu o corte de investimentos públicos, a restrição do elitescrédito, a desvalorização da moeda e o incentivo às exportações. As medidas tinham endereço certo, pois agradavam os setores empresariais que apoiaram sua candidatura. Por outro lado, prejudicariam a classe trabalhadora, pois provocavam o aumento do desemprego, carestia, arrocho salarial etc.

No plano administrativo, Jânio procurou centralizar ainda mais o poder através da adoção de uma mecânica de decisões que diminuía o poder do Congresso Nacional e ampliava a esfera de competência da Presidência da República.

A renúncia
Setores políticos da situação e oposição perceberam a intenção de um golpe de Estado nas movimentações do presidente. Tudo foi aparentemente interrompido no dia 25 de agosto, quando Jânio mandou uma mensagem ao Congresso Nacional anunciando sua renúncia ao mandato.

Durante muitos anos especulou-se sobre os reais motivos que levaram o presidente a abandonar o cargo. Em 1996, Jânio John Quadros, seu neto e secretário-particular, publicou um livro que trazia a confissão do ex-presidente sobre os motivos da renúncia, feita no quarto de hospital onde passou seus últimos dias.

A renúncia foi uma estratégia política que não deu resultado. Jânio esperava que o povo, seguido pelos militares, não aceitasse a sua renúncia e o reconduzisse ao cargo, o que não aconteceu.

Debate e exposição de fotos na Sede
Com o debate Ditadura nunca mais e com a exposição de fotos Direito à memória e à verdade – A ditadura no Brasil, o Sindicato quer lembrar de forma crítica os 45 anos do golpe.

Para o debate estão convidados o deputado federal José Genoíno, que lutou na Guerrilha do Araguaia, o ex-sindicalista ferroviário Raphael Martinelli, e o procurador da República Marlon Alberto Weichert, que move ação contra o coronel Brilhante Ustra por crime de tortura.

O debate acontece a partir das 18h da sexta-feira, dia 3, na Sede do Sindicato, quando a exposição será aberta. Algumas das mais marcantes cenas dos 21 anos de repressão que dominaram o País entre 1964 a 1985 podem ser revistas na exposição, montada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos.

Para o ministro Paulo Vannuchi, dos Direitos Humanos, a exposição fotográfica é mais uma forma de saber o que aconteceu nesse período da vida brasileira. “São registros de uma passado marcado pela violência e por violações de direitos humanos. Só de posse desse conhecimento o País saberá construir instrumentos eficazes para garantir que esse passado não se repita nunca mais”, disse.

Da Tribuna Metalúrgica