Um mandato de resistência em defesa das liberdades
Amanhã, Wagner Santana, o Wagnão, presidente do Sindicato desde julho de 2017, deixa o cargo para assumir novos desafios em defesa da classe trabalhadora. Neste último “Fala, Wagnão” ele destaca os principais desafios do seu mandato e enaltece a disposição de luta da categoria.
Companheiros e companheiras, metalúrgicos e metalúrgicas do ABC, essa é a última vez que me dirijo a vocês na qualidade de presidente do Sindicato. Amanhã, sábado, deixo o cargo de presidente, tarefa que será assumida pelo companheiro Moisés, trabalhador na Mercedes.
Quando assumi a presidência, em julho de 2017, estávamos completando um ano da consumação do golpe contra a então presidenta Dilma Rousseff. Um governo legitimamente eleito pelo voto e arrancado dos trabalhadores através de um golpe que tinha a intenção de retirar direitos consagrados há décadas, conquistados por meio de muitas lutas e sacrifício.
Essa intenção se confirmou com a aprovação da reforma Trabalhista durante o governo Temer, combatida por nós, que retirou direitos, precarizou o mundo do trabalho, trazendo um desafio enorme para o movimento sindical, que permanece.
Depois enfrentamos o processo eleitoral conturbado de 2018. Alertamos para o perigo da vitória de um governo com discurso extremamente obscurantista, retrógrado e elitista que foi eleito com a propagação de notícias falsas e discurso de ódio.
O ódio não deve ser a marca da nossa sociedade, muito pelo contrário, a marca tem que ser a da solidariedade, da tolerância, da compreensão e da compaixão. A marca de quem, ao lutar pelos seus direitos, sabe que está lutando pelo direito do seu próximo, daqueles que virão depois.
Foi a favor disso que nosso mandato esteve à disposição. Saímos às ruas dezenas de vezes para lutar por nossas conquistas, por salários, por emprego e contra aqueles que queriam retirar dos trabalhadores seus direitos. As mobilizações foram intensas e emocionantes. A categoria respondeu muito bem a isso.
Dentre os eventos ocorridos neste mandato, dois precisam ser destacados pela importância histórica e política. A prisão injusta do companheiro Lula, depois confirmada como indigna, já que a própria justiça reconheceu as manipulações processuais. Depois sua libertação decretada quando houve a confirmação dessas ilegalidades que deixou claro que o companheiro Lula foi vítima de uma armação com o objetivo tirá-lo das eleições. Nesses dois importantes momentos, foi aqui no Sindicato que Lula foi abraçado pela classe trabalhadora que ele representa.
Fizemos a luta necessária contra o fechamento da Ford, montadora importante e histórica no ABC. O encerramento das atividades da fábrica no Brasil comprova que a falta de política industrial leva à desindustrialização do país, de uma indústria já precária, sem investimento e que não está preparada para as mudanças que vêm ocorrendo no mundo com a chegada da Indústria 4.0 e a reconversão de motorização de veículos movidos a combustíveis fósseis para carros elétricos ou híbridos. Política que cobramos insistentemente.
O exemplo da Ford confirma a máxima dita por nós há décadas para os trabalhadores: O que importa no final para o capital é o lucro.
Outro desafio inesperado foi a pandemia de Covid-19. Tivemos que ser extremamente criativos para manter empregos, garantir salários, cobrar deste governo negacionista medidas que preservassem a vida, mas infelizmente essa parte não conseguimos conquistar, em razão do posicionamento genocida deste governo que levou a mais de 625 mil mortes.
Conseguimos garantir junto às empresas testagem, respeito às medidas sanitárias, lutamos pela vacina, pelo auxílio emergencial, apoiamos as medidas de restrições de convivência e arrecadamos toneladas de alimentos para a população mais desprotegida.
Nós, apesar de toda guerra midiática contra as pautas libertárias e democráticas, conseguimos ter da nossa categoria a compreensão do papel protagonista deste Sindicato na sociedade. Por isso, agradeço cada companheiro e companheira militante, cada trabalhador na fábrica que dedicou algumas horas, alguns dias do seu tempo para lutar em favor de si e daqueles que dele dependem.
Quero agradecer à nossa militância na fábrica, àquele trabalhador que não tem cargo de representação, mas que contribuiu de forma decisiva nos momentos em que o Brasil precisou.
Nosso mandato teve como principal marca a resistência em defesa das liberdades. Confirmamos o que eu disse quando assumi, que um outro Brasil é possível, um Brasil com plenos direitos para a classe trabalhadora.
Agradeço também a todos os trabalhadores e trabalhadoras no Sindicato, que no dia a dia nos dão apoio para enfrentar esse tsunami que se abateu sobre a classe trabalhadora e assim nos possibilitam organizar nossas mobilizações.
Merecem também minha gratidão os diretores e diretoras deste Sindicato com os quais convivi, sem eles não teríamos êxito.
Deixo a presidência do Sindicato com a sensação de dever cumprido. Com a tranquilidade de que fizemos um bom combate e de que construímos um caminho para o retorno à normalidade democrática.
Sigo na luta cumprindo outras tarefas que me desafiam a continuar exercendo aquilo que tenho como princípio: que minha vida deve ser uma passagem produtiva na terra em favor de uma sociedade melhor e mais justa.
Obrigado a todos e todas, nos vemos na luta!