Um pequeno gesto
Talvez eu surpreenda você com o tema que escolhi para tratar hoje nesta coluna. No meio de noticiário saturado de tentativas de encobrir o escândalo do TRT, de calamidades públicas de toda ordem, quero falar simplesmente de uma pequena experiência em benefício de crianças carentes, desenvolvida na nossa região.
O gesto é pequeno perto de um projeto como o “Criança Esperança” mas, tem um significado profundo. E é tanto mais significativo, quanto maior a falta de esperança que invade cada um de nós. Daí a importância de dar um pouco de publicidade a esta história e, inclusive, convidar você, leitor e leitora, a conhecer esta experiência mantida por metalúrgicos do ABC.
A iniciativa, na verdade, é de trabalhadores e trabalhadoras da Volkswagem. No fim do ano passado eles lançaram a campanha “Uma hora para o futuro” propondo ao pessoal da Volks uma doação em favor do projeto. A resposta foi significativa: a adesão massiva, em torno de 96% na unidade da Anchieta, resultou numa soma de R$ 179 mil, complementada por uma contribuição de igual valor feita por trabalhadores da Volks da Alemanha.
Injetada no Centro Cultural Afro Brasileiro Francisco Solano Trindade, uma entidade não governamental sem fins lucrativos, cujo principal objetivo é resgatar a dignidade e a cidadania de crianças e adolescentes carentes, o dinheiro garantiu o funcionamento do projeto. Um casarão da rua Sexto Guazelli, no centro do Riacho Grande, foi o local escolhido para sede do trabalho.
Aos poucos, abrigado num terreno de 1.665 m2, o casarão começou a ser frequentado por crianças e adolescentes entre 6 e 16 anos. Hoje, 35 deles e suas famílias, oriundos de favelas e bairros populares de São Bernardo e Santo André frequentam o Centro Cultural onde participam de diversas atividades: aulas de capoeira, de artesanato, dança e música. A partir do trabalho de uma equipe de 12 profissionais, eles também recebem reforço escolar e refeições diárias.
Das 35 crianças assistidas hoje pelo projeto, a grande maioria era composta por guardadores de carro (19) e andarilhos (9). A orientação do projeto, no entanto, não se limita à idéia de tirar crianças carentes das ruas e integrá-las à família e à escola. A entidade também se propõe a prestar assessoria às suas famílias tentando fazer com que criem condições de garantir às crianças o carinho e o bem estar necessário a uma vida com dignidade. Para isto, o projeto oferece às famílias uma ajuda de custo de R$ 150,00, além de engajá-las no desenvolvimento de um projeto de cooperativa de trabalho doméstico.
É pouco, diante do tamanho das carências crônicas que nosso País herdou de um passado colonial. Muito pouco, diante da profundidade do buraco em que a Nação foi enterrada nestes anos de políticas anti-populares patrocinadas por sucessivos governos neoliberais. Mas é significativo porque mostra que os trabalhadores e o povo brasileiro deixaram de ficar esperando que as elites resolvam os problemas sociais que nos afligem em todas as esquinas da cidade.
É pouco, mas o bastante para que você possa acreditar que é possível a gente acabar com as crianças e adolescentes carentes que perambulam pela região.
Luiz Marinho Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, presidente de honra da Unisol-União e Solidariedade das Cooperativas do Estado de São Paulo e Coordenador do Mova Regional