Uma faculdade aberta para negros

Meta da Unipalmares é facilitar o acesso do afro-descendente ao ensino superior. Duas mulheres negras contam como enfrentaram o preconceito para estudar e no mercado de trabalho.

Inscrição para vestibular na Unipalmares até dia 30 

Universidade tem como política facilitar o acesso do afro-descendente ao ensino superior

Com taxa de R$ 10,00, a Universidade Zumbi dos Palmares – Unipalmares, na cidade de São Paulo – inscreve, até o próximo dia 30, candidatos a 400 vagas oferecidas para o curso de Administração de Empresas, com habilitação em administração geral, financeira, comércio eletrônico ou comércio exterior. A escola, que tem como política facilitar o acesso do afro-descendente ao ensino superior, concede bolsas de 50%.

Dos 650 alunos da Unipalmares 87% são afro-descendentes. Segundo o reitor José Vicente, esta mistura é o ponto forte da instituição, que busca capacitar profissionais que, por sua vez, também colaborem para diminuir as desigualdades sociais. Vicente afirma que a faculdade é a primeira da América Latina a ter mais de 80% de alunos negros.

A mensalidade neste ano é R$ 260,00. Para manter o valor, menor que o das demais faculdades, a Unipalmares conta com doações de empresas e a ajuda dos professores, que recebem menos do que ganhariam em outras instituições.

Para marcar o Dia da Consciência Negra, a Unipalmares fez parceria com a Fundação Bradesco e inaugurou seu centro de inclusão digital, com 180 cursos gratuitos de ensino a distância.

O centro também tem computadores com teclado em braille para deficientes visuais, que também fazem alfabetização na Unipalmares.

O exame seletivo da Zumbi dos Palmares será realizado em 3 de dezembro. A inscrição deve ser feita na Rua Washington Luiz, 236, Bairro da Luz, São Paulo.

Mais informações pelo telefone (11) 3228-8409 ou pelo portal na internet www. unipalmares.org.br

Reconhecimento exige esforço redobrado

Para um afro-descendente pobre ou de classe média baixa chegar à universidade o caminho é longo.

Ele enfrenta as mesmas dificuldades de pessoas brancas em iguais condições, mas com um agravante destrutivo para seus planos de ascensão social: o preconceito. Felizmente, os que conseguem superar essa barreira são mais visíveis a cada dia. Leia, abaixo, depoimentos concedidos à Tribuna Cidadania por duas mulheres negras que foram à luta e também superaram esses obstáculos.

Alva Helena de Almeida, 50 anos, enfermeira formada pela Universidade de São Paulo em 1979

“Minha classe tinha uns 80 alunos. Apenas eu e uma amiga éramos negras. Eu trabalhava desde os 16 anos; na faculdade tentei estudar de dia e trabalhar à noite, mas só agüentei sete meses.

Minha mãe foi diarista para me ajudar e meu pai era zelador, funcionário público do Estado. Na escola havia um certo isolamento, não só por sermos negras, eu e minha amiga, mas também pela classe social, pois a maioria tinha um nível econômico melhor, eram filhos de professores, médicos. Isso de não se sentir representado cria um certo tipo de estranhamento, é possível sentir o preconceito velado.

Depois, quando comecei a trabalhar num hospital privado, surgiram outras situações, até cômicas, relacionadas à questão racial. Por exemplo, era obrigada a usar meia de pressão cor de pele e, na época, só havia a cor m