Universidade deve se voltar à sociedade

A crítica é do filósofo Renato Janine Ribeiro, para quem o ensino superior é voltado aos interesses das empresas. Janine participou de palestra no Sindicato, onde debateu o tema O Trabalhador e a Universidade.

Universidades: “O melhor é uma boa formação em humanidades”

Em palestra realizada sexta-feira no
Sindicato, o filósofo Renato Janine Ribeiro
defendeu as cotas nas universidades e
também o modelo adotado pela Federal do
ABC, que é o de garantir uma boa formação
geral, deixando a especialização para depois.
Janine, que é professor de Ética e Filosofia na
USP, traçou também um quadro geral da
universidade hoje no Brasil, apontou suas
deficiências e propôs soluções.

Cotas nas universidades

As injustiças históricas
justificam as cotas, como as
para afrodescentes e índios,
pois é preciso estabelecer mecanismos
para que haja uma
sociedade mais plural.

É importante garantir
esse acesso à universidade
mas, depois de implantada, as
cotas devem ser extintas gradualmente,
pois é importante
a sociedade pressionar pela
redução da desigualdade
onde ela se origina.

Universidade para a sociedade

O papel da universidade
não é fazer as empresas
produzirem mais e melhor,
como acontece atualmente,
mas fortalecer o movimento
social. A educação tem papel
enorme para reduzir a desigualdade
social.

Responsabilidade social

Sou a favor da criação de
um estágio social para os alunos.
É importante para a formação
da pessoa trabalhar junto
às comunidades carentes. A
universidade precisa mostrar
seu serviço, ir à sociedade, verificar
as demandas e intervir.

Mundo do trabalho e formação

Com as mudanças no
mundo do trabalho, a formação
precisa ser mais geral,
mais abrangente, do que assegurar
que a pessoa vai fazer
só uma coisa a vida inteira.

O mundo está em mudanças,
as profissões acabam
e nascem e os cursos de formação
não estão acompanhando
essas mudanças.

Universidade Nova

A Federal da Bahia desenvolve
o projeto da Universidade
Nova, que tem o meu
apoio, semelhante ao aplicado
na Federal do ABC.

Ele é constituído por três
anos fortes de formação, a
mais abrangente possível. A
especialização vem depois, na
pós-graduação ou no próprio
emprego.

Nem todos trabalham na profissão

Dos 4 milhões de brasileiros
fazendo graduação, 3
milhões têm a necessidade do
diploma para trabalhar. São,
ao todo, 44 profissões que
exigem diploma universitário. Mas nem todos trabalham
na profissão em que se
formaram. O maior percentual
está em Medicina.

Dos formados, 67% trabalham
na área. Em outras profissões,
o percentual é bem menor.
De que vale então fazer o
curso universitário se as pessoas
não vão exercer a profissão?

Maioria das universidades é fraca

A universidade é um
grupo de faculdades que oferece
graduação, pós, pesquisa
e extensão e só foi criada
no Brasil em 1931. Demorou
para chegar e demorou para
crescer, pois em 1968 havia só
100 mil alunos.

Com apoio da ditadura
militar e depois no governo
FHC o setor privado cresceu,
mas essa expansão não garantiu
qualidade. Foi uma expansão
sem critérios. Hoje, o Brasil
tem 168 universidades. Mas
a maior parte é fraca. Caso seja
aprovada a reforma universitária
que está no Congresso, 99
seriam fechadas.