USW diz que mantém seu poder de negociação com a Vale, no Canadá

O sindicato canadense Local 6500, que representa os trabalhadores da Inco, controlada pela Vale, diz que continua no papel de representante dos funcionários da mineradora e não teve seu papel reduzido. John Fera, presidente do sindicato, vinculado ao UnitedSteelWorkers (USW) , discorda da avaliação do diretor-executivo de Metais Básicos da Vale, Tito Martins, feita ao Valor, de que o sindicato teve seu poder diminuído após quase um ano de greve nas minas de níquel.

“O sindicato não teve seu poder diminuído de forma alguma. Permanecemos no papel de único e exclusivo agente negociador em nome de todos os integrantes do USW Local 6500 e do Local 6200. Somos a voz coletiva dos trabalhadores da Vale”, rebateu Fera em entrevista por email.

A declaração de Martins de que a greve foi uma “briga pelo poder” foi entendida pelo sindicalista como parte “da arrogância da Vale para com os trabalhadores e as comunidades canadenses que não tem precedentes em nosso país”. Segundo Fera, após enfrentar os ataques da Vale por um ano inteiro, “o sindicato permanece unido e forte”.

Do seu ponto de vista, o acordo assinado com a mineradora não alterou a relação sindicato, empregado e empregador. “Negociamos um acordo coletivo que inclui concessões nossas em algumas questões, mas também prevê muitas melhorias, inclusive em nossos salários e em nosso plano de pensão”, explicou. O acordo coletivo com a Vale foi assinado e aprovado pelos trabalhadores das minas de Sudbury e Port Colborne porque representou aumentos salariais anuais mais a reposição de perdas inflacionárias. E significou a retirada, por parte da Vale, de todos os processos judiciais contra os mineiros.

Os termos do novo contrato não desvincula o preço do níquel dos benefícios dos trabalhadores, disse. Os trabalhadores da Vale nas minas de Sudbury ainda receberão o abono que reflete o preço do níquel. “O abono do níquel agora permitirá que nossos membros ganhem até 15 mil dólares canadenses por ano, além de seus ganhos regulares”. Do total, 75% do abono são determinados pelo preço do níquel e 25%, pelo lucro geral da Vale. O gatilho foi fixado em 3,75 dólares canadenses, o que é mais alto que o nível anterior de 2,25 dólares canadenses.

Sobre a falta de envolvimento do governo do Canadá na greve, o sindicalista disse que muitos trabalhadores e trabalhadoras canadenses creem que é uma total “irresponsabilidade” o governo de Stephen Harper – primeiro ministro canadense – se manter calado, “enquanto uma empresa multinacional de grande porte descumpre suas promessas legais e trava uma batalha perniciosa contra os trabalhadores e as comunidades canadenses”.

A greve teve repercussões nas relações nacionais e internacionais do USW, informou Fera. “Essa luta ajudou a criar o movimento internacional dos atingidos pela Vale, que trabalha no Brasil, Canadá, Moçambique, Chile, Peru, Argentina, Nova Caledônia e Indonésia para resistir ao que ele denominou de “táticas truculentas que a Vale emprega onde chega”.
Fim da greve não reduz críticas à gestão adotada na Inco.

O fim da greve não colocou um ponto final nas críticas do sindicato à forma como a empresa brasileira tentar administrar a Inco

Na avaliação de Tito Martins, diretor-executivo da área de Metais Básicos, a greve foi uma “briga por poder”. Vocês concordam?

John Fera: Foi uma luta muito difícil – uma das mais difíceis por que já passamos – devido à agenda da Vale de atacar os trabalhadores e as comunidades canadenses. Como disse o presidente internacional do USW, Leo Gerard: “Eu nunca, nunca mesmo lidei com uma empresa tão torpe, sem sentimento e gananciosa quanto a Vale Inco”. A arrogância da Vale para com os trabalhadores e as comunidades canadenses não tem precedentes em nosso país. A Vale demonstrou desprezo pelas tradições canadenses de direitos dos trabalhadores, democracia no local de trabalho e negociação coletiva justa. A Vale provocou a greve ao tentar ditar e impor sua agenda aos trabalhadores canadenses. O sindicato não teve seu poder diminuído de forma alguma. Temos hoje todos os mesmos direitos, privilégios e poderes que tínhamos no passado. Em muitos países onde tem operações, a Vale pode pisotear os direitos dos trabalhadores e os interesses das comunidades. Mas neste quesito ela não teve êxito no Canadá.

Martins disse que a Vale quebrou o poder do sindicato de intermediar na relação dos empregados com a empresa.

Após enfrentar os ataques da Vale por um ano inteiro, o nosso sindicato permanece unido e forte. Negociamos um acordo coletivo que inclui concessões nossas em algumas questões, mas prevê muitas melhorias, inclusive nos salários e no plano de pensão. E o nosso sindicato retém poder e capacidade – sob o acordo coletivo, além de sob a legislação canadense – de representar integralmente os seus membros e defender os direitos no local de trabalho.

O preço do níquel foi desvinculado dos benefícios?

Não. Nossos membros na Vale receberão o abono que reflete o preço do níquel. O abono é uma parte importante dos benefícios. Ele permite que os trabalhadores participem dos lucros quando a época é boa para os negócios da empresa. O abono do níquel agora permitirá que nossos membros ganhem até 15 mil dólares canadenses por ano, além de seus ganhos regulares.

O que levou o sindicato a fechar o acordo coletivo?

O acordo fechado não é tudo que gostaríamos, mas inclui concessões de parte a parte. Ele inclui aumentos salariais anuais e reposição das perdas inflacionárias e melhorou o plano de pensão de benefícios definidos, aumentando o valor da aposentadoria para 41,4 mil dólares canadenses ao ano, além de cobertura de benefícios de saúde até o fim da vida. Contém plano de pensão de contribuição definida muito significativo para novos funcionários. E cobertura para quaisquer deficiências físicas que nossos membros eventualmente venham a adquirir.

Houve alguma decisão com respeito aos 9 trabalhadores demitidos durante a greve?

Devido à insistência do sindicato, o caso dos nove trabalhadores foi encaminhado à Comissão de Relações Trabalhistas da Província de Ontário, que ainda não se decidiu.

Da Valor Econômico