Utopia

O socialismo continua vivo e é realidade. Não foi derrotado, e ainda alimenta os
sonhos de milhões de pessoas. É este o simbolismo maior do Fórum Social Mundial
que se encerrou ontem em Porto Alegre. Representa a aspiração mais profunda dos
povos que buscam uma vida em equilíbrio com a natureza e repudiam a barbárie
neoliberal.

Mais que uma negação do Fórum Econômico Mundial, que este ano
se reuniu em Nova York, os milhares de manifestantes de Porto Alegre mostraram
ao mundo sua disposição de enfrentar a ofensiva mundial do capital contra os
direitos democráticos e sociais da cidadania. E não é apenas discurso político.
Entender o sentido desta mensagem exige que você abandone velhos preconceitos a
respeito do socialismo e da democracia.

É preciso, em primeiro lugar,
entender que socialismo e democracia são valores que se combinam e se
complementam. Como disse Lula, em mensagem enviada aos participantes de uma das
conferências realizadas no último dia do encontro de Porto Alegre, um não existe
sem o outro.

O professor Paul Singer, um dos mais respeitados
intelectuais brasileiros vivos, lembrou que, como alternativa ao capitalismo, e
antes mesmo da experiência soviética, o socialismo tem aparecido ao longo destes
dois séculos nas brechas deixadas pelo capitalismo. É socialismo a conquista de
limites à jornada de trabalho. É manifestação de socialismo a realização de
experiências de economia solidária, como o cooperativismo, desde meados do
século XIX.

As 11 cooperativas de produção que nosso Sindicato mantém
hoje funcionando na região, empregando cerca de 1100 trabalhadores, são exemplos
destas iniciativas de organização do trabalho que nada tem a ver com o
capitalismo. O Fórum Social Mundial foi um terreno fértil de notícias sobre este
tipo de manifestação socialista. No Amapá há um clube de poupança que recolhe R$
1,00 de cada trabalhador. São centenas de experiências de orçamento
participativo que também representam espaços novos na direção do
socialismo.

Imposto Progressivo, educação pública, saúde pública e outros
direitos sociais são também exemplos de experiências de implantes socialistas
que os trabalhadores têm conquistado e defendido, com avanços e recuos, ao longo
da história do capitalismo. Eles mostram como as sementes do socialismo
continuam vivas entre nós e em toda a comunidade internacional.

Outro
conceito que é preciso recolocar no seu devido lugar para entender porque nós
continuamos acreditando no socialismo, como nossa principal bandeira de vida, é
o conceito de democracia. Em primeiro lugar é preciso distinguir democracia de
liberalismo. É preciso reconhecer que todas as conquistas democráticas foram
feitas contra os interesses e com a oposição da burguesia.

A conquista do
voto universal é resultado de luta dos trabalhadores. Partido político é
invenção dos trabalhadores. E toda e qualquer liberdade, mesmo a liberdade
restrita que os trabalhadores mantém de organizar-se no chão da fábrica é
resultado de conquistas socialistas sobre o mercado.

São estas certezas,
reafirmadas com muita ênfase no encerramento do Fórum Social Mundial que nos
fazem sustentar que o socialismo não foi derrotado com a queda do Muro de
Berlim, da mesma forma que a democracia não foi derrotada pela instalação de
regimes autoritários em todos os cantos do mundo. Mas é uma realidade traduzida
nas conquistas democráticas que se impuseram sobre o liberalismo burguês. É uma
realidade que continua alimentando os sonhos da humanidade. É uma realidade que
faz a utopia de Porto Alegre prevalecer sobre o poder do império americano.

Luiz Marinho é Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
presidente de honra da Unisol-União e Solidariedade das Cooperativas do Estado
de São Paulo e Coordenador do Mova Regional