Vantagens competitivas
Nesta semana deflagramos nossa campanha salarial. Nossa meta é, antes de tudo, recuperar as perdas inflacionárias dos salários relativas ao período. Como fizemos ao longo destes anos, continuamos nos orientando pela certeza de que não dá para ficar de braços cruzados acreditando na história de esperar o “bolo crescer”. Nem dá para deixar de defender vantagens trabalhistas aceitando a chantagem dos elevados índices de desemprego.
Foi através de nossas campanhas salariais que, sempre com muitas lutas e negociações, conquistamos condições de trabalho e salário que hoje garantem ao ABC posição de terceiro maior mercado regional do País. Os dias de hoje são difíceis, nós o reconhecemos. Mas, é com a mesma disposição do passado, que vamos enfrentar a atual campanha.
Alguns analistas da economia regional costumam equivocadamente debitar aos “altos” rendimentos e às “vantagens” trabalhistas locais – ou seja, ao sindicalismo cutista – os elevados índices de desemprego e a fuga de empresas da região. Se é fato que vantagens trabalhistas podem ajudar a afastar algum tipo de empresa da região não é menos verdade que, graças aos mesmos fatores, nossa região mantenha sua capacidade de atrair novos empreendimentos e continue como mercado de consumo privilegiado.
Apenas um pequeno exemplo desta realidade. O balanço dos ganhos deste ano da categoria dos metalúrgicos do ABC com a participação no resultado das empresas – o PLR – soma uma importância de R$ 94,2 milhões, que ainda poderá crescer diante de novos acordos que estão sendo conquistados. Este valor representa um extra que os metalúrgicos da CUT garantiram lutando, fazendo greves, e negociando.
Amparado pela lei, o PLR é parte das negociações entre empresa e trabalhadores e seu pagamento é vinculado ao cumprimento de metas de produção e qualidade do produto. O valor apurado corresponde a cerca de 10% do valor do salário médio recebido por todos os trabalhadores da região num mês. Em 2000, a soma de PLR dos metalúrgicos do ABC alcançou R$ 90,5 milhões
A quase totalidade desse dinheiro vai movimentar a economia da região. Pesquisa do Dieese/Seade mostra que 85% das pessoas que trabalham na região também mora nos seus limites. Uma boa parte destes valores já foi repassada aos trabalhadores. Em geral, uma segunda parcela é paga ao final do ano, depois que as metas forem alcançadas.
Desta forma, desconhecer a contribuição positiva da mobilização e da organização dos trabalhadores para com a economia regional significa, no fundo, adotar postura uma ideológica. Uma postura que coloca a precarização do contrato trabalhista como alternativa de desenvolvimento que não mede o preço de exclusão, miséria e violência a ser pago pela sociedade. Um preço que, naturalmente, a sociedade não está disposta a pagar.
As inquietações levantadas na semana passada pelo terrorismo covarde e insano contra os principais símbolos do poderio do capitalismo e do ocidente devem, pelo menos, nos ajudar a enxergar com um pouco mais de profundidade os limites deste modelo de economia. Da mesma forma que é preciso repensar os paradigmas do uso da tecnologia para fins de segurança internacional, incapaz de deter ações kamikases, também é preciso questionar o modelo de sociedade que precariza o trabalho e flexibiliza de forma absoluta a produção.
Luiz Marinho é Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
presidente de honra da Unisol-União e Solidariedade das
Cooperativas do Estado de São Paulo e Coordenador do Mova Regional