Veja será processada por Dilma

As tentativas da mí­dia em influenciar o processo eleitoral no Brasil contra candidatos dos trabalhadores não são novidade.

Há 25 anos, o metalúrgi­co Lula sofreu sua primeira derrota à Presidência da Re­pública após um processo de manipulação coordenado pela Rede Globo.

A jovem democracia bra­sileira de 1989 não resistiu à edição das imagens do último debate entre ele e Collor feita pela emissora a favor do can­didato da elite.

Na semana passada o golpe voltou a ocorrer. Às vésperas do 2º turno, a revista semanal Veja antecipou sua chegada às bancas das tardes de domingo e foi publicada na quinta à noite com uma notícia falsa envol­vendo a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula.

Na sexta, a manobra pros­seguiu com a surpreendente entrega gratuita de milhares de exemplares em terminais de ônibus e estações do Metrô em São Paulo para divulgar mais rapidamente a “denúncia”.

Para completar a operação, jornais da imprensa comercial – Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Valor Econômico, o Globo e vários outros em todo o País – e sites na internet ligados a eles reproduziam a matéria da Veja, divulgando nacionalmente uma notícia da mentira.

O golpe pareceu ter fun­cionado no sábado, quando milhões de brasileiros comen­tavam uma informação inverí­dica envolvendo Lula e Dilma que não sabiam ser mentira.

Os autores do golpe só não contavam com a militância aguerrida dos que apoiam o projeto de mudança defendido por Dilma e rapidamente ocu­param as ruas e redes sociais para denunciar a farsa.

A presidenta também agiu rápido e em seu último progra­ma do horário eleitoral denun­ciou a intenção clara da revista Veja em interferir no resultado eleitoral, já que as pesquisas apontavam um crescimento da candidata.

“Não posso me calar frente a este ato de terrorismo eleitoral articulado pela revista Veja e seus parceiros ocultos”, decla­rou Dilma em seu programa.

“Uma atitude que enver­gonha o jornalismo e agride a nossa tradição democrática”, continuou. “Os brasileiros da­rão sua resposta à Veja e seus cúmplices nas urnas e eu darei a minha resposta a eles na jus­tiça”, completou Dilma.

Os resultados das urnas no domingo mostraram o fracasso do golpe articulado pela revista Veja com o apoio da mídia comercial.

Jornalistas criticam revista

O ex-ministro Paulo Vannuchi classificou a empreitada de Veja como irresponsável, crime de imprensa e eleitoral, comparando a manobra com as eleições de 1989 (leia acima).

A atitude da revista também foi criticada por diversos jornalistas. Gregorio Duvivier escreveu na Folha de S. Paulo: “”Veja” se perdeu por completo”.

Ricardo Melo, também da Folha, no artigo “Dilma 7 X 1 Mentira”, pôs em xeque ‘denúncias’ como a da Veja. “O atestado de óbito do pseudojornalismo difusor de ‘notícias’ sem nenhuma veleidade [intenção] de investigar, apurar, checar – respeitar o leitor”, criticou.

Para o professor de Comunicação da Universidade de Brasília e jornalista Venício A. Lima, a revista abandonou princípios elementares do jornalismo.

“Com essa edição, talvez a Veja tenha involuntariamente sido a esperada gota d’água que faltava para que finalmente se regulamente e se cumpram as normas da Constituição de 1988 relativas à comunicação social”, defendeu.

Da Redação