#VidasNegrasImportam: Luta pela democracia de mãos dadas com a luta antirracista nas ruas do Brasil

Confira hoje o último texto da série escrita pelo Departamento de Formação: Luta nas ruas pela democracia e contra o racismo

Foto: divulgação

Nas colunas de terça e quarta falamos um pouco sobre o racismo no Brasil e nos Estados Unidos, respectivamente. No Brasil, prevaleceu o mito da “democracia racial” e do “povo cordial”. É comum ouvirmos falar que aqui não temos racismo e que, nos EUA, brancos e pretos convivem em harmonia sem ódio e intolerância. Dessa forma, as noções de liberdade, igualdade e democracia não foram associadas histórica e culturalmente ao preconceito racial ou de cor em nosso país. Tudo parece ser naturalmente explicado ou pela “inferioridade” ou pela “incapacidade” do negro se estabelecer e prosperar socialmente. A ascensão social de negros, como no caso de jogadores de futebol, que ao negarem o racismo (com exceção de exemplos isolados), reforçam o argumento de que o preconceito no Brasil tem origem social e não racial ou étnica.

Nos Estados Unidos as políticas de segregação racial, que estabeleciam a separação entre negros e brancos em lugares públicos e privados, foram adotadas durante 90 anos (1876 a 1965) vários estados daquele país. O racismo aberto fez com que se desenvolvesse entre os afro-americanos, uma educação racial nas comunidades onde moravam através das igrejas e associações de diversas naturezas. Foi também a principal motivação para a luta dos negros pelos direitos civis, conquistados em 1964, depois de muita perseguição às lideranças negras como Martin Luther King, Malcolm-X e Rosa Parks, entre tantos outros menos conhecidos.     

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 Não há proibição para o acesso de negros em nenhum lugar. Mas ainda vemos poucos negros nas escolas privadas de ensino básico e médio ou nas faculdades e nos cursos considerados de prestígio como medicina, engenharia, direito, entre outros. Espaços como shoppings, teatros, restaurantes, cinemas seguem dominados pela classe média branca.  Os negros pouco aparecem nos livros didáticos, na literatura e nas artes em geral com exceção da música. Mas nós sabemos onde eles estão: nas periferias mal assistidas por equipamentos públicos, nas casas sem saneamento básico ou morando nas ruas, são os principais usuários do transporte público de má qualidade, estão nos empregos menos remunerados e menos protegidos, são maioria nos presídios. Os negros estão nas estatísticas de homicídios como principais vitimas de violência policial nas periferias das grandes cidades. De acordo com dados do IBGE de 2019, dos 13,5 milhões de brasileiros vivendo em extrema pobreza, 75% são pretos ou pardos. Em tempos de pandemia esse quadro tende a se agravar.

Apesar das diferenças históricas nos Estados Unidos e no Brasil, em ambos os países os negros estão na base da pirâmide social, são as principais vítimas da violência policial, do desemprego e são os mais afetados, proporcionalmente, pelo coronavírus. As manifestações contra o fascismo e pela democracia no Brasil, ao incluírem a bandeira do combate ao racismo, adquiriram um significado político da maior magnitude em nosso país. Tal como ocorreu nos protestos em muitos lugares no mundo após o assassinato de George Floyd, a noção de liberdade, igualdade e democracia começam a caminhar de mãos dadas com a luta antirracista.