Violência doméstica aumenta durante isolamento

Casa não é o lugar mais seguro para quem vive com o agressor. Coletivo das Mulheres Metalúrgicas reforça necessidade de rede de apoio e faz doação para Casa de Acolhimento

Foto: divulgação

No contexto do isolamento social, quando “Fique em Casa” é a palavra de ordem para se proteger do coronavírus, muitas mulheres estão sendo obrigadas a passar mais tempo com o agressor, o que tem aumentado dramaticamente os casos de violência doméstica em quase todos os países, segundo alertas da ONU (Organização das Nações Unidas).

No Brasil não é diferente, só no estado de São Paulo os atendimentos da Polícia Militar a mulheres vítimas de violência aumentaram 45%, é o que aponta o relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no último dia 20. O total de socorros prestados passou de 6.775 para 9.817, na comparação entre março de 2019 e março de 2020. A quantidade de feminicídios também subiu no estado, de 13 para 19 casos (46%).

Foto: Adonis Guerra

A diretora executiva do Sindicato, Michelle Marques, destaca que é preciso que as companheiras estejam atentas para reforçar a rede de apoio às vítimas e lembra que a situação financeira contribui para agravar casos de violência doméstica.

“Sabemos que quando o dinheiro começa a faltar dentro de casa, o que tem acontecido com muitas famílias neste momento, o peso é ainda maior sobre as mulheres. Os maridos que já são agressivos ficam ainda mais violentos e descontam nas esposas e filhos. Nós precisamos estar atentas a qualquer sinal de violência para apoiar as companheiras que precisam de ajuda”.

Foto: Adonis Guerra

A dirigente ressalta que o Coletivo está disponível para ser um canal de contato, já que fica ainda mais difícil fazer a denúncia estando ao lado do agressor 24 horas por dia. “Agora, em isolamento, a mulher que sofre violência tem ainda mais dificuldade para denunciar ou ir até uma delegacia. Para as mulheres da categoria orientamos que caso não possam ligar no 180 ou fazer a denúncia pela internet, que procurem sua representante sindical que fará o encaminhamento. E a todas as mulheres que fiquem atentas e denunciem caso percebam algum ato de violência na vizinhança. Mesmo longe, não podemos soltar a mão umas das outras”.

Doação para casa de acolhimento

O Coletivo das Mulheres Metalúrgicas do ABC doou todo o valor arrecadado durante as últimas atividades culturais e mais dois computadores seminovos para a Casa Beth Lobo, centro de acolhimento e referência, em Diadema, que recebe e presta toda assistência a mulheres em situação de violência doméstica.

“A direção da casa no informou que o computador era uma necessidade urgente para dar andamento aos atendimentos, então conseguimos dois equipamentos no Sindicato e doamos também o que conseguimos arrecadar em dinheiro. Esperamos que este pequeno gesto possa ser de grande valia, neste período tão difícil que estamos vivendo”, completou.

Denúncia virtual 

No estado de São Paulo, o registro pela internet de boletim de ocorrência de violência doméstica começou a valer desde 2 de abril e pode ser feito por meio da Delegacia Eletrônica (delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br).  Ao registrar o boletim, a vítima deve informar a melhor maneira de a polícia entrar em contato sem que o agressor fique sabendo. Ela pode, por exemplo, escrever que prefere que a polícia ligue para a casa da mãe dela, ou que entre em contato por meio de aplicativo de mensagem ou e-mail.

Estratégias para enfrentar a violência doméstica no isolamento

• trazer alguém da família para casa;

• esconder objetos pontiagudos;

• retirar de casa possíveis “gatilhos” e potencializadores, como bebidas alcoólicas e drogas;

• avisar familiares e vizinhos sobre o que está acontecendo (em caso de episódios de violência);

• e manter contato com sua rede de apoio por meio de telefone e aplicativos, e-mail e outras redes sociais.