Violência urbana: Diálogo resolve conflitos em Diadema
Prefeitura promove reuniões entre moradores para incentivar a convivência
Cena 1 – Os vizinhos se desentendem
a partir da reforma do
telhado de uma das casas, que
estaria provocando umidade na
outra casa.
Cena 2 – No prédio, as vizinhas,
amigas, tornam-se inimigas
e a onda de boataria e de
fofocas rende agressões
verbais e físicas.
Cena 3 – Os sacos de lixo na calçada,
rasgados pelos cachorros e
chutados pela meninada, dão
início a uma discussão entre a
vizinhança do quarteirão, com
bate boca e ofensas.
Situações banais como
essas, aparentemente inofensivas,
são um grande risco. O
Mapeamento da Criminalidade,
da Secretaria de Defesa
Pessoal da Prefeitura de Diadema,
mostrou que 80% dos
homicídios têm motivos banais
e ocorrem entre pessoas
que se conhecem e moram a
menos de um quilômetro
uma da outra.
A partir dessa constatação,
a Secretaria implantou,
há dez meses, um programa
de mediação de conflitos,
que estimula o diálogo entre
os moradores como instrumento
para resolver os problemas
e prevenir a violência.
Esse programa faz parte
do plano de segurança que
nos últimos anos transformou
Diadema em referência
internacional no combate à
violência.
“Com essa constatação
resolvemos trabalhar antes
que algum fato acontecesse e,
contrariando o provérbio,
passamos a meter a colher em
briga de marido e mulher”,
conta Regina Miki, secretária
de Defesa Social.
A maior parte dos casos
chegam à Secretaria através
de 80 facilitadores, que são
pessoas treinadas para estarem
atentas e perceberem as
situações de conflito.
Eles fazem um primeiro
contato para saber se existe
disposição das partes para
resolver a confusão e, se existir,
encaminham o caso para
um dos 20 mediadores.
Outros casos são encaminhados
pela polícia civil.
São pessoas que procuram a
polícia para fazer um boletim
de ocorrência de algo que
não é um crime, mas uma incivilidade
ou ato parecido.
Normalmente os mediadores
realizam três sessões,
nas quais as partes são ouvidas
individualmente e, depois,
ficam frente a frente,
junto com mediadores, para
tentar um acordo.
Regina disse que o mediador
é preparado para abrir um
diálogo entre as partes, mostrando
que todas ganham convivência
pacífica.
Boa vontade – Ela comenta que é preciso
haver disposição das
partes para o diálogo, senão
não há acordo. “Não obrigamos
ninguém a nada, senão
o acordo não é cumprido”,
explicou. Em 80% dos casos,
o acordo é cumprido.
Em menos de um ano de
funcionamento, o programa
já realizou 70 mediações, a
maior parte relacionada a situações
familiares, não pagamento
de dívidas e desentendimentos
entre vizinhos.
Para Regina, o programa
mostra que as pessoas
têm de se desarmar. “Sugerimos
que as pessoas usem a
palavra para conversar e se
entender. É uma transformação
cultural”, conclui.
À propósito, uma pequena
calha resolveu o problema
da umidade da casa e os vizinhos
voltaram a se entender.
No prédio, as vizinhas acertaram
regras de convivência
como não dar ouvidos a fofocas
e uma falar com a outra diretamente,
sem intermediários.
No caso dos sacos de
lixo, uma reunião lá na rua
acertou que os sacos seriam
colocados na calçada no máximo
uma hora antes do caminhão
passar. E quem colocava
o saco de manhã, porque
tinha de trabalhar, deixaria
o lixo com a vizinha. Problema
resolvido!