Vítima de racismo policial nos EUA, Troy Davis, negro, é executado sem provas
Depois de viver no corredor da morte por mais de 20 anos, acusado pelo suposto assassinato de um policial branco no estado estadunidense da Geórgia, Troy Davis foi executado às 23 horas de quarta-feira (21).
A acusação contra Davis, que era negro, foi toda ela baseada num processo sem provas ou evidências, repleto de vícios e ilegalidades. Desde 1991, quando foi sentenciado, nada menos do que sete das nove pretensas “testemunhas” recuaram ou alteraram a sua declaração, denunciando que foram submetidas à “coerção” ou “intimidação” por policiais para incriminá-lo. A arma do crime pelo qual Davis é acusado jamais foi encontrada, não tendo sigo registrada qualquer impressão digital ou traço de DNA no local do assassinato.
Até mesmo um membro do júri que votou pela condenação, declarou não estar convencido de ter tomado a decisão correta, quando soube que a maior parte das testemunhas havia mentido descaradamente para não ter problemas com a polícia.
A sentença chegou a ser adiada para permitir que o Supremo Tribunal dos EUA avaliasse o recurso protocolado pelos advogados de Davis a cerca de 90 minutos do prazo final. Manifestantes que aguardavam em frente ao presídio chegaram a festejar a decisão. Mas logo depois veio a notícia: o Supremo não acatou o recurso.
A Corte Superior do Condado da Geórgia, no sudeste dos Estados Unidos, também havia rejeitado no mesmo dia dois recursos apresentados pelos advogados de Davis. Informado da decisão do Comitê de Indultos, que negou seu pedido de clemência, Davis solicitou que fosse submetido a um detector de mentiras, o que também foi negado.
O presidente Barack Obama lavou as mãos, se recusando a intervir para impedir a execução. Conforme seu porta-voz Jay Carney, “não é apropriado que o presidente dos Estados Unidos se envolva em casos específicos como este, que são da justiça estadual”.
Um dos muitos exemplos de negros vítimas do preconceito e da injustiça racial, Troy Davis recebeu o apoio em manifestações populares que colheram mais de um milhão de assinaturas por todo o mundo, ao que se somaram declarações de personalidades como o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, a atriz Susan Sarandon, o bispo sul-africano Desmond Tutu e o papa Bento XVI.
Um dos advogados de Davis, Stephen Marsh, afirmou que acreditava ter “apresentado dúvidas substanciais neste caso” e que considerava a execução totalmente descabida “em vista do nível de dúvida que existe”.
“Dado que ainda persistem dúvidas sobre este caso, o Conselho não pode permitir em boa consciência que esta execução se realize”, declarou o investigador dos EUA da Amnistia Internacional, Rob Freer. “Nos opomos a todas as execuções qualquer que seja o Estado, mas até os mais ardentes defensores desta punição irreversível devem ficar perturbados pelo estado das provas contra Troy Davis”, acrescentou.
Estudo realizado pela Universidade de Stanford, na Califórnia, concluiu que quanto mais escura a pele de um negro acusado de assassinar um branco nos EUA, maior a sua chance de ser condenado à morte. Segundo dados do Centro de Informação sobre a Pena de Morte, dos 1.022 executados naquele país entre 1976 a 2006, 349 (34%) eram negros, embora eles sejam apenas 13% da população. A maior parte da população negra vice nos estados do sul do país, onde a pena capital é mais utilizada.
Da CUT Nacional