Vítimas de feminicídio aumentam durante a pandemia
Anuário Brasileiro de Segurança Pública também aponta que um estupro ocorre a cada 8 minutos no país. Metalúrgicas fazem campanha de conscientização
Os números chocam, são impactantes. Pensar que a cada dois minutos uma mulher é agredida e que a cada oito minutos ocorre um estupro no Brasil pode parecer exagero. Mas não é, os dados estão na 14ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, com base nas informações fornecidas pelas Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social dos estados.
Em meio à pandemia os homicídios dolosos de mulheres e os feminicídios tiveram crescimento no primeiro semestre de 2020 em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre os homicídios dolosos, quando há a intenção de matar, o número de vítimas do sexo feminino aumentou de 1.834 para 1.861, um acréscimo de 1,5%. Já as vítimas de feminicídio foram de 636 para 648, aumento de 1,9%.
Em 2019, os registros de lesão corporal em decorrência de violência doméstica aumentaram 5,2%. Foi registrada uma agressão física a cada dois minutos: um total de 266.310 durante todo o ano.
“É fundamental que os companheiros estejam ao nosso lado nesta luta, combatendo qualquer tipo de violência e assédio”.
Cristina Aparecida Neves
Este ano, durante o Outubro Rosa, o Coletivo das Metalúrgicas do ABC, além de abordar a prevenção do câncer de mama, também alerta para a conscientização sobre violência contra mulher.
“Estamos sempre levantando este tema na nossa categoria porque ele é de interesse de todos. Espero que os homens tenham chegado até este parágrafo da matéria e não tenham abandonado a leitura por acharem que é assunto de mulher. Pelo contrário, é fundamental que os companheiros estejam ao nosso lado nesta luta, combatendo qualquer tipo de violência e assédio. Na prática isso quer dizer, por exemplo, não passar pano para um colega violento e adotar uma postura crítica durante uma conversa machista. E aí, podemos contar com vocês?”, indagou a CSE na Mercedes, Cristina Aparecida Neves, a Cris.
Estupros
Na edição de 2015 os pesquisadores mostraram que havia um estupro a cada 11 minutos no país, a edição deste ano mostra que um crime do tipo foi registrado a cada 8 minutos em 2019: foram 66.123 boletins de ocorrência de estupro e estupro de vulnerável registrados em delegacias de polícia apenas no ano passado, e a maior parte das vítimas é do sexo feminino – cerca de 85,7%. Em 84,1% dos casos, o criminoso era conhecido da vítima: familiares ou pessoas de confiança.
Já na comparação com 2018, os números mostram que os registros de estupro e estupro de vulnerável recuaram 11,8% e 22,5%, respectivamente.
Perfil das vítimas
Se entre as vítimas de estupro do sexo masculino, os casos estão mais concentrados durante a infância, entre as vítimas do sexo feminino a violência sexual acontece mais frequentemente durante a adolescência. A maioria dos casos entre as vítimas do sexo masculino se dá aos quatro anos de idade, enquanto entre as vítimas do sexo feminino isto acontece aos 13 anos.
Entre as vítimas do gênero feminino, é maior o percentual de casos na vida adulta: enquanto 24,4% das mulheres vítimas de estupro em 2019 tinham mais de 18 anos quando o crime ocorreu, essa proporção foi de 15% entre os homens.
Medo de denunciar
Numa comparação entre o primeiro semestre de 2020 com o mesmo período de 2019, foi verificado que os registros de denúncias de violência de gênero caíram: houve redução de 10,9% nos boletins de ocorrência de lesão corporal dolosa, 16,8% nos de ameaças. “A presença mais intensa do agressor nos lares constrange a mulher a realizar uma ligação telefônica ou mesmo de dirigir-se às autoridades competentes para comunicar o ocorrido”, observam os pesquisadores envolvidos no levantamento.