Volks responde na segunda se retira ameaça de transferência

A direção da Volkswagen do Brasil convidou os presidentes dos Sindicatos dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, e de Taubaté, Antônio Eduardo Oliveira, para negociar a implantação do projeto Autovisão Brasil.

Durante o encontro, eles entregaram aos sindicalistas uma carta que diz que a montadora quer iniciar um debate sobre o plano de redimensionamento dos negócios da Volkswagen do Brasil. Entre vários itens que a empresa se propõe a discutir está o seguinte: “Discussão integral das questões de tempo e forma de integração das pessoas aos projetos, bem como do envolvimento dos sindicatos e representações internas no processo”.

Ao serem questionados se este item significa que a empresa vai desconsiderar as cartas enviadas aos 3.933 trabalhadores – 1.923 de São Bernardo e 2.010 de Taubaté -, os diretores disseram que isso eles não podem responder.

A avaliação de Feijóo sobre o encontro foi a de que “é importante o fato da Volks ter aberto um espaço para negociação, porém os sindicatos do ABC e de Taubaté só aceitam negociar se não houver ameaça de transferência dos trabalhadores para uma empresa que ninguém sabe exatamente o que é, às vezes, parece ser virtual; noutras, gestora de mão-de-obra, holding etc. “

Para Feijóo, ao entregar as cartas comunicando a transferência para o Instituto Gente, do grupo Autovisão, a Volks “datou 3.933 trabalhadores para transferência compulsória em 1º de setembro para uma coisa que ninguém sabe direito o que será. Isso gerou intranqüilidade.”

Durante a coletiva, Feijóo disse que as notícias vindas de dirigentes sindicais alemães dão conta de que o projeto Autovisão só foi implantado na Alemanha depois de um longo debate com sindicatos, governos e autoridades locais. E, mais importante que isso, lá o projeto foi gerador de novas vagas no mercado. Nenhum trabalhador da Volks Alemã foi transferido para a nova empresa.

“Fizemos uma reivindicação concreta: só aceitaremos negociar se a ameaça feita aos trabalhadores que a empresa já determinou que serão realocados for retirada. Na carta que a empresa nós deu hoje diz que eles querem negociar ponto a ponto o Instituto Gente, que aceita o debate sobre o tempo de implantação etc, mas não podem nos responder se no dia 1º de setembro ninguém será transferido”.

“É evidente que consideramos o chamado para negociação um avanço, mas para prosseguir nas negociações temos que dizer aos trabalhadores que ninguém será transferido. A diretoria da Volks ficou de responder na segunda-feira se a reivindicação de retirada das ameaças será atendida para que as negociações com os sindicatos possam ser iniciadas. Portanto, só na segunda-feira saberemos se o gesto da empresa é de boa fé.”

“Queremos negociar, mas não debaixo de ameaças. Considero que ao entregar as cartas aos trabalhadores a fábrica deixou claro para cada um deles o seguinte: o excedente é você. E se o projeto der errado, em 2006 estará todo mundo na rua, supondo que o acordo seja cumprido?”

Segundo Antonio Eduardo de Oliveira, o Toninho, em Taubaté, a transferência de 2.010 trabalhadores para o Instituto Gente representa uma redução de um terço no número de horistas. Lá 98% dos metalúrgicos escolhidos são da linha de produção. “Isso significa que mais de um turno será extinto. Com isso, a fábrica terá de parar de produzir, reduzir ou transferir a produção do Gol e da Parati para outra planta. “

Em São Bernardo do Campo, receberam as cartas trabalhadores das áreas de suporte – logística, ferramentaria, manutenção, mecânica etc – e mensalistas (área administrativa). Entre os trabalhadores escolhidos para ir para a Autovisão tinha um morto (em Taubaté), cuja carta foi entregue a família; e um aposentado que não está mais na fábrica (em SBC), que recebeu a carta em casa.