Zelinha, a grande companheira!

Maria Elicélia Feitosada Silva, Zelinha

Dona Maria Elicélia Alves Feitosa, a Zelinha, tem uma trajetória longa de luta e amor pela categoria. Desde outubro de 1976 como trabalhadora no Sindicato, quando a base ainda era São Bernardo e Diadema, essa companheira aguerrida vive lado a lado todas as lutas, derrotas e vitórias junto aos metalúrgicos.

Conhece Lula desde quando ele já estava presidente em seu primeiro mandato na base e, de lá para cá, tornou-se grande amiga do presidente, de sua família e de todos os trabalhadores que aqui passam. “Quem manda aqui é o peão, os trabalhadores metalúrgicos do ABC”, afirma com orgulho e defesa. Começou como faxineira, depois aqueceu e depositou amor nos cafezinhos que servia, agora acolhe, puxa a orelha e encaminha para a luta, como uma mãe, quem chega na cafeteria Zelinha e Companheiros, que faz as honras para quem entra no saguão do Sindicato.

Viu as portas do Sindicato fecharem em três das quatros cassações que a entidade sofreu: em 1979, 1980 e 1983 e não baixou a guarda. De cabeça em pé e botando respeito na polícia que aqui se impôs, salvou parte da memória da categoria: uma cópia do filme Linha de Montagem que, por pouco, não foi apreendida pela ditadura. No meio de uma sessão lotada, agentes da Polícia Federal chegaram com ordens de apreender o filme, que não tinha certificado de censura.

Depois de uma negociação entre policiais, Lula, Chico Buarque de Hollanda (autor da trilha do filme) e o então prefeito de São Bernardo, Tito Costa, decidiu-se que o filme seria entregue, rolo a rolo, às autoridades após a exibição.

Ao invés disso, parte da diretoria ao ver Zelinha de bota e avental lavando o andar térreo do Sindicato, não teve dúvidas: acionou a companheira que, rapidamente, embrulhou o filme em alguns jornais, o colocou em uma sacola grande e jogou uns sapatos por cima para esconder. Enquanto os diretores saíam de carro por um lado, Zelinha foi por outro.

A polícia estava na porta do Sindicato e depois subiu para ir buscar na Sede, mas os diretores foram mais rápidos. “Passei por eles e disse: ‘boa noite, companheiros'” e eles responderam “boa noite”. “Saindo do Sindicato, esses mesmos diretores me encontraram mais à frente na rua e eu entrei no carro, tirei o filme da sacola e coloquei embaixo de um dos bancos. Arrumei a sacola novamente e segui para minha casa a pé. Tenho muito orgulho de ter salvo o filme porque era a única história registrada da categoria na época”. O filme ganhou continuação décadas depois com o documentário Chão de Fábrica, do diretor Renato Tapajós.