“Que a justiça determine, investigue e puna quem tem que ser punido. A lei tem que servir para todos”

"Os sindicatos e os movimentos sociais têm que reagir cobrando das autoridades do país uma investigação"

Foto: Adonis Guerra

Em conversa com a Tribuna Metalúrgica, o presidente do Sindicato, Moisés Selerges, falou sobre a denúncia que a PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentou ao STF (Supremo Tribunal Federal) na última terça-feira, 18, contra Jair Bolsonaro e um grupo de aliados por tentativa de golpe de Estado em 2022. Ao todo, 34 pessoas foram denunciadas. O dirigente falou de que maneira a notícia impacta no cenário político atual do país; como os Metalúrgicos do ABC, sindicatos e movimentos sociais devem reagir; e o papel da classe trabalhadora na defesa da democracia.

Tribuna Metalúrgica – A PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciou Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado em 2022 e afirma que foi o líder da organização que tentou derrubar a democracia no Brasil. De que maneira essa denúncia impacta o cenário político atual?

Moisés Selerges – A PGR denunciou o ex-presidente e mais 33 envolvidos no esquema, ao todo, e chegou a hora de esclarecer os fatos. Ela representa um momento decisivo na política brasileira e reforça o compromisso das instituições com a manutenção da ordem democrática. No passado, o Brasil já viveu uma época obscura da história com a ditadura militar, de 1964 a 1985. Na ocasião, os trabalhadores lutaram pela redemocratização do país por uma constituinte na qual um dos maiores valores é o Estado democrático de direito, a base para uma sociedade que nós queremos construir com justiça, igualdade social e uma sociedade solidária. Na Constituição e no regime democrático, qualquer força ideológica está apta a disputar as eleições e seguir a vontade popular. A tentativa de golpe afronta a Constituição, a qual todos, sem exceção, devem respeitar e seguir as determinações. Aqueles que afrontam o Estado democrático de direito têm que ser punidos conforme a lei, independente de qual ideologia segue ou defende.

TM – O que representa para os trabalhadores essa tentativa de golpe? E como sindicatos e movimentos sociais devem reagir a essa denúncia?

Moisés – Os sindicatos e os movimentos sociais têm que reagir cobrando das autoridades do país uma investigação, respeitando sempre a possibilidade de direito à ampla defesa e ao contraditório, mas, após essa denúncia da PGR, seguir e cumprir os trâmites previstos em lei. Para os trabalhadores, isso representa um ataque. Acabar com as liberdades individuais, as liberdades das instituições, isso afronta os sindicatos e, por consequência, os trabalhadores. Sem democracia, não existe reivindicação, não existe sindicato. Sem democracia, não existe liberdade para os trabalhadores se organizarem.

TM – E qual é o papel da classe trabalhadora no acompanhamento desse processo e na defesa da democracia?

Moisés – A cobrança contínua aos poderes constituídos no Brasil para que lutem pela democracia, pois a democracia neste país foi construída a várias mãos, inclusive dos trabalhadores.

TM – A extrema direita adotou tom de ruptura com a democracia desde 2021 quando, em seus repetidos pronunciamentos públicos, expressava descontentamento com decisões de tribunais superiores e com o sistema eleitoral eletrônico em vigor. Com a denúncia, pode-se dizer que esta é uma vitória da democracia?

Moisés – Pode-se dizer que é uma vitória da democracia e que todos os extremos não beneficiam a construção de um Estado democrático. Os extremos são perigosos. A sociedade precisa viver em equilíbrio, sempre respeitando os poderes constituídos. Eu tenho que respeitar, acima de tudo, a decisão da maioria do povo que, de forma democrática, foi às urnas e escolheu o seu representante. Goste ou não, o que me cabe é respeitar a decisão soberana do povo brasileiro.

TM – O que significa a prisão dos 34 denunciados?

Moisés – Todos têm que ter o direito à defesa, o direito ao contraditório. Agora, acima de tudo, a justiça tem que ser feita de maneira célere. Os envolvidos têm que ser punidos naquilo que diz a lei e não podemos, de maneira alguma, amenizar um fato tão grave como foi essa tentativa de golpe.

TM – Qual o papel dos Metalúrgicos do ABC na defesa da democracia?

Moisés – É orar e vigiar a democracia. Acompanhar passo a passo as instituições e poderes que formam o Estado brasileiro. Foi a partir da luta dessa categoria que se derrubou uma ditadura militar e, assim, vamos continuar.

TM – O que você acha do projeto de anistia para os golpistas que tentaram abolir o estado democrático de direito?

Moisés – Quem comete um crime tem que ser punido. O que aconteceu no dia 8 de janeiro de 2023 no país, por exemplo, foi muito sério. Como prevê a Constituição, essas pessoas que feriram a democracia, que planejaram esse tipo de golpe de forma comprovada pela denúncia apresentada pela PGR, têm que ser punidas como qualquer cidadão brasileiro que comete um crime. Vamos fazer anistia para todo mundo que cometeu um crime? Não tem essa. Sou contra a anistia. Que a justiça determine, investigue e puna quem tem que ser punido. Aqueles que não têm que ser punidos, que não punam. Agora, a lei tem que servir para todos.